Depois de
trabalhar arduamente num novo projeto de grande viabilidade econômica, cansado
e mesmo assim empolgado com o sonho dos bons resultados, ele resolveu se
deitar. Ainda de calça jeans, se afastou da tela do computador passando as mãos
sobre o rosto. Estava exausto e parecia que tinha se esquecido disso há mais ou
menos três horas atrás quando pensou pela primeira vez em descansar. Levantou
da cadeira, foi ao banheiro levou água ao rosto, olhando pelo espelho pensou
algumas coisas egoístas e apagou a luz mirando somente sua cama a frente.
Caiu sobre
os lençóis observando o relógio que já marcava 3 horas da madrugada. Percebeu que
havia passado a metade do dia trabalhando, 12 horas seguidas sem se dar conta,
de repente aquilo começou a parecer loucura até para ele. Apesar da grande
empolgação em finalmente crescer financeiramente, mas ao mesmo arrependido pelo
tempo não fazendo o que uma pessoa na casa dos 20 anos de idade costuma fazer.
Pensar nisso foi como acender a faísca para o efeito domino de seu próprio
pensamento preocupado e mesmo cansado, teve insônia. Pensando sobre o que havia
feito de sua própria vida. Sobre o quanto outras pessoas de sua idade poderiam
estar felizes curtindo uma noite de festa e o destino de trabalho duro
destinado por ele a si mesmo.
Um tanto
amargurado com a penúria de às vezes não acreditar em si mesmo, de achar que
poderia estar falhando e de alguma forma jogando fora as oportunidades de ser
feliz. Passava pelo momento de saber que já alcançara muito, mas que, no
entanto, não era o suficiente, que era apenas o início de muito mais e que
chegar até ali lhe custara muito, parar nunca foi uma opção. Um misto de
revolta, gratidão e sensação de culpa lhe esvaíram em pensamentos tão
subjetivos que somente ele mesmo poderia entender. Possuído pelo cansaço e pela
droga de sua mente desobediente, o corpo se mantinha tenso e pouco relaxado. O
coração palpitava invariavelmente indo contra aquele momento planejado de
apenas se deitar, relaxar e dormir.
Jovem e cansado
com a impossibilidade de conseguir dormir. Com o pensamento perturbado com as
tarefas do dia seguinte e da semana que se iniciava e mesmo com os planos que
trilhou pra si mesmo. Abriu o olho pensando no desgosto da ansiedade que sempre
lhe incomodava antes de dormir. Virou-se de modo organizado na cama e olhou
para o teto buscando alento e pensando que o sono estava chegando. Marcando 3h
e 26 minutos no relógio eletrônico, os olhos marejando e piscando, o bocejo e a
moleza lenta do corpo o fizeram feliz com o pensamento de que finalmente chegou
o momento. O sono chegara. Poderia descansar...
No momento
em que o corpo se relaxa e esquece a si próprio ele ouviu um estrondo pavoroso.
Pulando da cama num sobressalto, com o corpo desajeitado e os olhos
esbugalhados na direção da cozinha pensou: - O que será?! Só estou eu nesse
apartamento. As chaves todas trancadas, não tenho animais. Logo pensou: fogo,
acidente?! Mesmo sem ter razão para andar devagar, avançou temerosamente no
corredor que ia dar na cozinha. A luz noturna produzida pelos postes de luz
externa e a luz da lua cheia mantinham a impressão de que havia um clarão
exagerado para parecer noite. As janelas de vidro e o chão branco faziam que
toda essa luminosidade se refletisse no interior do ambiente produzindo uma
sensação mesmo assim fúnebre.
Quando resolveu
por impulso avançar a face na frente do resto do corpo, teve um tremor
misturado com fascinação. Apesar de já ter entendido o que estava vendo ele
parecia duvidar e por alguns segundos tentou se fixar sem pestanejar. Com um
olhar impávido como uma escultura forjada em pedra lá estava aquele ser. Um gênio
sem idade, que adora perturbar as pessoas confundindo-as, muitas vezes também
dispostos a ajudar e depois cobrar pela ajuda, a assim correr pelo mundo se
fixando nos locais ou se esvaindo com o vento. Estava transversalmente vestida
de uma capa estampada, com uma aparição corpulenta, curiosamente ameaçadora e
simpática, mas com a pele escarificada e os olhos luminosos como uma pedra reluzente.
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