quarta-feira, janeiro 11

Quando o Demônio vêm


  
Depois de trabalhar arduamente num novo projeto de grande viabilidade econômica, cansado e mesmo assim empolgado com o sonho dos bons resultados, ele resolveu se deitar. Ainda de calça jeans, se afastou da tela do computador passando as mãos sobre o rosto. Estava exausto e parecia que tinha se esquecido disso há mais ou menos três horas atrás quando pensou pela primeira vez em descansar. Levantou da cadeira, foi ao banheiro levou água ao rosto, olhando pelo espelho pensou algumas coisas egoístas e apagou a luz mirando somente sua cama a frente.

Caiu sobre os lençóis observando o relógio que já marcava 3 horas da madrugada. Percebeu que havia passado a metade do dia trabalhando, 12 horas seguidas sem se dar conta, de repente aquilo começou a parecer loucura até para ele. Apesar da grande empolgação em finalmente crescer financeiramente, mas ao mesmo arrependido pelo tempo não fazendo o que uma pessoa na casa dos 20 anos de idade costuma fazer. Pensar nisso foi como acender a faísca para o efeito domino de seu próprio pensamento preocupado e mesmo cansado, teve insônia. Pensando sobre o que havia feito de sua própria vida. Sobre o quanto outras pessoas de sua idade poderiam estar felizes curtindo uma noite de festa e o destino de trabalho duro destinado por ele a si mesmo.

Um tanto amargurado com a penúria de às vezes não acreditar em si mesmo, de achar que poderia estar falhando e de alguma forma jogando fora as oportunidades de ser feliz. Passava pelo momento de saber que já alcançara muito, mas que, no entanto, não era o suficiente, que era apenas o início de muito mais e que chegar até ali lhe custara muito, parar nunca foi uma opção. Um misto de revolta, gratidão e sensação de culpa lhe esvaíram em pensamentos tão subjetivos que somente ele mesmo poderia entender. Possuído pelo cansaço e pela droga de sua mente desobediente, o corpo se mantinha tenso e pouco relaxado. O coração palpitava invariavelmente indo contra aquele momento planejado de apenas se deitar, relaxar e dormir.

Jovem e cansado com a impossibilidade de conseguir dormir. Com o pensamento perturbado com as tarefas do dia seguinte e da semana que se iniciava e mesmo com os planos que trilhou pra si mesmo. Abriu o olho pensando no desgosto da ansiedade que sempre lhe incomodava antes de dormir. Virou-se de modo organizado na cama e olhou para o teto buscando alento e pensando que o sono estava chegando. Marcando 3h e 26 minutos no relógio eletrônico, os olhos marejando e piscando, o bocejo e a moleza lenta do corpo o fizeram feliz com o pensamento de que finalmente chegou o momento. O sono chegara. Poderia descansar...

No momento em que o corpo se relaxa e esquece a si próprio ele ouviu um estrondo pavoroso. Pulando da cama num sobressalto, com o corpo desajeitado e os olhos esbugalhados na direção da cozinha pensou: - O que será?! Só estou eu nesse apartamento. As chaves todas trancadas, não tenho animais. Logo pensou: fogo, acidente?! Mesmo sem ter razão para andar devagar, avançou temerosamente no corredor que ia dar na cozinha. A luz noturna produzida pelos postes de luz externa e a luz da lua cheia mantinham a impressão de que havia um clarão exagerado para parecer noite. As janelas de vidro e o chão branco faziam que toda essa luminosidade se refletisse no interior do ambiente produzindo uma sensação mesmo assim fúnebre.

Quando resolveu por impulso avançar a face na frente do resto do corpo, teve um tremor misturado com fascinação. Apesar de já ter entendido o que estava vendo ele parecia duvidar e por alguns segundos tentou se fixar sem pestanejar. Com um olhar impávido como uma escultura forjada em pedra lá estava aquele ser. Um gênio sem idade, que adora perturbar as pessoas confundindo-as, muitas vezes também dispostos a ajudar e depois cobrar pela ajuda, a assim correr pelo mundo se fixando nos locais ou se esvaindo com o vento. Estava transversalmente vestida de uma capa estampada, com uma aparição corpulenta, curiosamente ameaçadora e simpática, mas com a pele escarificada e os olhos luminosos como uma pedra reluzente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Viage mais em:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...