Com uma voz sensual
e sonoramente firme, disse virando sob os pés descalços: acaso lhe acordei? Estranhamente
surpreso, talvez enfeitiçado, lhe fitou um olhar amedrontado o jovem rapaz todo
encabulado. Malandramente a criatura meta humana seguiu dizendo: estava apenas de
passagem e lhe ouvi, resolvi vir para tergiversar. Naquele instante em que
começava a se recuperar do choque, o jovem aprumou os fios de cabelo de sobre a
testa e o retrucou interrompendo: como conseguiu entrar? Levantando a palma das
mãos com as joias reluzentes a se mover refletindo feixes sobre o mármore,
respondeu dizendo: quando quero entrar em algum lugar, todas as portas se
convergem a abrir.
Andando até
a próxima cadeira pôs se a sentar apoiando-se sobre o lustroso tampão da mesa
de madeira à sua frente. Com uma pele acinzentada e pálida sobre o cenário azul
escuro da cozinha, seus apetrechos e o cabelo lhe davam um aspecto glacial. De
corpo esculturalmente perfeito, parecia impossível qualquer sobressalto de
maldade, a feição de desleixo na face e o certo desprezo lhe rendiam um ar
naturalmente tentador e imperador. Olhou fixamente para o rapaz. Ele ainda
divinamente impressionado, mas já acordado, lhe perguntou o nome. A gargalhadas
e altos soluços respondeu dizendo: sou aquele a quem todos desejos confessam,
mas a quem ninguém deseja responder. Um demônio se preferir.
Ainda com
tremula conjunção de riso, continuou: agora se me permitir, tenho muito a lhe
dirigir. Ouço suas lamentações sem ser capaz de digerir, porque você, e outros
tantos, a viver se nega, preocupados com o que não podem mudar, negligentes da
própria vontade, escravos de uma certa chantagem, pelo apelo de se destacar?! Pobre
gente essa que precisa ser vista para se sentir viva. Se não lhe falha a
memória você não é alguém com relação assim tão íntima com o todo poderoso, oh,
o criador, de modo que quando se estimula, sou eu a escutar suas pernósticas
manifestações de ego e malcriação. Envolvido eu fico, com essa pretensa futura
geração, que mal se apoia sobre os próprios pés, apaixonados pela compulsão
finalizou ao se calar.
Num instante
perdido no tempo, as rajadas de luz que desciam rasgando a escuridão da
esquerda davam um ar fúnebre e frio ao ambiente, que só pela metade só da face
os permitia se ver. As vestimentas do demônio pareciam um contraste nebuloso e
fantasmagórico com a cozinha de mármore branco espelhado. O jovem que sempre
foi cético de tudo, começou a ironizar aquela situação pensando estar se
tratando de um filme em ação, pensou como aquele ser, possivelmente drogado,
havia adentrado em seu protegido requinte. Pensara nos patifes agentes de
segurança, na incompetência do tal moderno sistema de proteção, na zoação a que
aquilo tudo parecia caminhar.
Aparentemente
desconcertado e um pouco desapontado disse a criatura: não sou o que pensa que
sou. Conheço seus pensamentos, suas ambições e sua fome. O interior de suas maculas
e pertenço aos seus mais loucos desejos, mas por essa seria difícil imaginar,
afinal, não sabe quem sou e até dúvida se me pronuncio. Tinha alguma certa
esperança em você, pelo menos com você, que mesmo tão regularmente aplicado,
parecia dominar bem à vontade que esse não é o único plano de existência. É... Há
de demorar bastante até que essa geração venha a se acabar. Nem precisam mais
de demônios de tanto que conseguem se matar, mas nascem pior que praga no
Egito.
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