quarta-feira, julho 20

Unidos Somos Fortes



 
A chamada civilidade organiza a sociedade por regramentos que comprometem hábitos e condutas, criminalizando o ócio e a diversão, eliminando as possibilidades de expressão e liberdade numa tentativa de assegurar a igualdade entre todos. Mesmo com todas as limitações impostas pelos ordenamentos sociais e morais, persiste na natureza humana o ímpeto da rebeldia, da contradição e da diferença. Se socialmente somos obrigados a seguir determinados regramentos em nome da paz social, coexistem diversas possibilidades de quebrar esses ambientes de esterilidade e padronização.

E é justamente nos espaços onde mais somos pressionados pela ordem social que podemos reverter as bases da imposição. A rua é o maior signo da manifestação pública e oferece às coletividades a possibilidade de subversão da ordem imposta toda vez que é ocupada. Quando reunidos entre semelhantes o que era proibido se torna permitido, passando da ilegalidade para a total visibilidade social. As festas, manifestações e outras atividades realizadas nas ruas são capazes de criar verdadeiras bolhas dentro do ordenamento social, permitindo que novas liberdades aflorem.

A capacidade de inflar a chamada ordem mundial/local estabelece um verdadeiro universo paralelo entre a esterilidade da vida normal e a pluralidade da diversidade. Toda vez que acontece uma festa de rua, instala-se a possibilidade da coexistência pacifica entre os diferentes, ao mesmo tempo em que os riscos de contravenções aumentam. Da mesma forma que uma coletividade é capaz de coagir e impor determinado comportamento, outra coletividade também é capaz de usar estrategicamente os espaços públicos para se expressar livremente.

Quando surgem essas bolhas dentro da sociedade, significa que marginalizados e excluídos podem finalmente ocupar os espaços protegidos e frequentados pelas classes sociais privilegiadas. A antiga máxima de que a coletividade faz a força pode, nesse caso, até mesmo contrariar a afirmação de que a qualidade supera a quantidade. Talvez esteja falando de termos que não podem ser incluídos na mesma frase pelos seus sentidos discordantes, mas o que realmente importa, é perceber a força que temos quando permanecemos juntos por uma mesma causa.

A desregulação causada pela força coletiva pode favorecer o aumento da imposição, da mesma forma que pode potencializar a pluralidade das liberdades. Se a união faz a força, ela também pode motivar a continuidade e reforma das estruturas de imposição e coerção ou provocar uma revolução. Toda vez que formos confrontados pela força de um grupo unido, seremos igualmente obrigados a prestar atenção nas suas compreensões e explicações da vida. Pelo bem ou pelo mal, toda coletividade unida é capaz de favorecer espaços de poder e reflexividade.   

sexta-feira, julho 8

Mundo fitness: saúde e alienação



 
A beleza contaminou tudo, desde o que vamos comer até o que vamos vestir. Todos queremos ter corpos belos, ter uma boa aparência, porque assim a vida fica mais fácil e começa a fazer mais sentido: refletir beleza. São muitos os apelos e diversos os casos, mas em especial e de forma crescente, o estilo de vida fitness ganha a adesão de pessoas de todas as gerações. O que antes era um conselho medico, de se exercitar, se tornou um verdadeiro gancho da vaidade humana.    

Frequentar uma academia em busca de um corpo torneado, “malhado”, definido por assim dizer, primeiro demonstra que todas as propagandas e avançadas estratégias de marketing tem dado certo. A banalização da vida e a celebrização do espetáculo, fazem crescer o hedonismo naturalizado e cativado, como postura de identidade no mundo. Existe um bom mercado econômico e financeiro explorando esse tipo de consumo, utilizando formas cada vez mais aprimoradas de aumentar seus ganhos. 

É preciso saber a diferença entre saúde e alienação. A busca excessiva por saúde pode se tornar uma alienação, mas a por ter uma rotina fitness em busca de um corpo perfeito já é alienação. Naturalmente que uma rotina equilibrada com alimentação saudável, exercícios físicos, lazer e relações de qualidade podem trazer um bem-estar e realização. Agora quando tudo se transforma numa doutrina incapaz de preparar também, para uma consciência ampliada da existência, se torna uma alienação ainda mais arraigada. 

Se as coisas começam a ser organizadas milimetricamente programadas para atender a expectativa pessoal de atingir determinada perfeição, perde-se o contato com o outro, com o valor real da vida que está no compartilhamento de experiências. A padronização estética presente nos ideais de perfeição reforçam uma categoria ideológica egocêntrica e excludente. Sem ser capaz de estabelecer pontes relacionais sinceras, não somos capazes de entender quem somos e quem são as outras pessoas. 

A busca pela perfeição por si só já é imperfeita, porque estabelece um centro de verdade que ainda não é capaz de perceber que não existe verdade. Existem compreensões compartilhadas de mundo que só encontram sua afirmação em si mesmas, com os seus semelhantes, talvez por isso mesmo são sejam capazes de se aproximar ou explicar aqueles que são diferentes. Toda essa complexidade está presente quando se discute esse cenário dos ritos de perfeição, incluindo pelo corpo belo.

Entender que cada existência carrega uma individualidade única que o torna especial, significa cortar laços com o que padroniza e impede da busca por si próprio. Se somos capazes de perceber o mundo alienado em que vivemos, também somos de mudar nosso comportamento e compreensão da vida. Quanto mais nos enchemos de nós mesmos, mais nos enchemos das relações que mantemos com os próximos, da perfeição imperfeita que é a vida, e do equilíbrio do que é realmente belo.

sexta-feira, julho 1

Sobre o Prazer e a Dor de existir



 
De repente, deixei de ser especial
Me tornei e reconheci como mais um
Cheio de ideias que não são minhas
Utopias que apenas escolhi acreditar
Deixei de me perceber exclusivo        

Assim, desse jeito, pensando o que penso
Porque antes de saber o que sei, tudo era único
Os sonhos que tive durante a infância
As vontades da adolescência juvenil
Recorrentes fantasias e hábitos

Minhas experiências comuns
São apenas parte de um todo comum
Coisas pelas quais todo mundo passa
Dores que não são só minhas
Fracassos e vitórias que nunca são individuais

E meu corpo não é o último
Nesse eu tão previsível dentro desse meio
Vivendo um passado repetido
Correndo para descansar

Da minha história a única coisa que posso contar
São as feituras que ajudei a de alguma forma recriar
As pequenas e insubstituíveis colaborações que dei
Todas as mesmas coisas comuns que repeti ou não de forma incomum

E desfeito meu castelo de vento e projeções
A vida começou a fazer mais sentido
Meus pesos foram condensados
À ininteligível história humana
À parte da natureza que me obriga ser quem sou

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