Os textos aqui postados em geral
se utilizam de muitas metáforas e anedotas figuradas para ter maior
elasticidade em alcançar certos assuntos e propor analises mais amplas, sem
apontar diretamente um ponto único de discussão. Contudo, comezinho esse
discurso de indiferença, diante de todos os acontecimentos que tem
marcado os dias com reviravoltas políticas apocalípticas, tornou-se quase
impossível não falar da crise que toma conta da conjuntura nacional evidenciando
injustiças, e como não falar de toda essa parafernália pseudo high tech e
pós-moderna transvestida da conhecida estrutura colonial que entope o cotidiano.
Algumas já tão recorrentes que passam batidas, mas que são facilmente observáveis
no comportamento naturalizado em sociedade.
O Brasil é o país da diversidade
e da contradição. Na mesma proporção agigantada em que a população se mostra
como resultado de um grande caldeirão de miscigenação étnica e cultural pouco comum,
demonstra por outro lado uma enorme apatia política. E se por um lado quem
exerce ofício político trabalha em média três dias por semana e ainda recebe
salário, e que somando todas as gratificações, auxílios e regalias chegam a tornar-se
altíssimos, quem dá aula nos municípios não chega a receber o teto salarial, a
categoria policial que sai as ruas não tem condições de exercer um trabalho
digno e grande parte dos centros médicos públicos padecem. Enquanto os mais
pobres pagam tributos maiores do que podem, os milionários se quer recolhem o
Imposto sobre Grande Fortunas previsto na Constituição Federal.
Se por um lado a polícia ameaça e
prolifera um ambiente violento de guerra as drogas, por outro, violentam
a camada da sociedade da qual eles também fazem parte, reprimindo seus
semelhantes para proteger o patrimônio dos ricos. Na prática o que tem
acontecido é uma guerra contra a pobreza onde só quem não tem dinheiro cai
atrás das grades ou passa por constrangimentos desnecessários, não apenas em
relação a defasada tipificação penal de drogas no Brasil, mas contra toda uma
camada social e assalariada. Quem olha um país assim tão grande
territorialmente e tão rico em recursos naturais, não é capaz de imaginar a
pequenez do pensamento político e cultural que predomina e exerce o controle do
aparato político estatal. Infelizmente ainda vivemos num típico cenário de
faroeste caboclo em que quem é inteligente faz por onde e fica rico do melhor
jeito que consegue.
Há ainda um velho e persistente
ranço de intolerância que se manifesta sob discursos racistas, preconceituosos,
machistas, reflexo de uma elite burra e atrasada. Um discurso repressor e de
tom conservador que ignora o fato de que toda família brasileira que se preze, tem
alguém que se encaixa no perfil das minorias exploradas e violadas. Uma terra
em que celebridades não fazem arte, atores só encenam grandes marcas, cantores tem
medo de perder a popularidade, juízes não fazem justiça, políticos não
administram o bem público, jornais não informam a verdade, em que existe uma
educação limitada e limitadora ensinada.
Se por um lado a sociedade
brasileira acolhe e vende o discurso da igualdade de direitos, dos direitos
humanos, ao meio ambiente, a diferença que seja, por outro está mergulhada na
hipocrisia de tapar o sol com a peneira e discutir a marginalização de forma
marginal propositalmente. Nunca nenhum benefício social foi disponibilizado ao
povo sem que houvesse enfrentamentos, resistência e dialogo, mesmo quando
militantes puderam assumir o poder, nunca nada foi realmente feito com
interesse no benefício popular. Parece já ter sido naturalizado de forma tão
profunda e inerente na mentalidade dos brasileiros a ideia de que planejar,
executar e avaliar é balela que no final qualquer gambiarra serve.
As paisagens naturais e as
belezas tropicais parecem ter causado um atrofiamento mental que sempre
legitima o discurso conquistador de quem faz o que quer e porque está feito,
não pode mais ser desfeito. Um lugar em que respeitar a ignorância e ser cúmplice do desrespeito se tornou traço cultural, forma de pensar, brincadeira
normal que faz todo mundo calar a boca ou sorrir abertamente. Apesar de ser
reconhecido como um país rico, entre as dez maiores economias do mundo, o
Brasil só será capaz de ser desenvolvido e plenamente rico, quando deixar de
fingir acreditar no que fala e manter a coerência com seu discurso; aprender a
confiar no seu povo e parar de servir como capitania das elites capturadas pela
sua própria vontade de ocupar o papel dos colonizadores.
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