Tudo parecia
tão intenso e ao mesmo tempo tão rápido e enjoativo que o jovem rapaz teve
náuseas e começou a se lembrar dos seus ensinamentos religiosos, mas nada havia
lhe preparado para viver aquilo, a presença do demônio de alguma forma lhe
fazia mal mesmo sem lhe tocar, apenas sua presença já era suficiente para
consumir suas energias causando medo e fascinação. Logo ele pensou em vomitar
mesmo sem ter nada no estômago. O demônio como que já esperando por tudo
aquilo, abanou as mãos olhando para o teto como quem pior recebe aquela
manifestação infantil e desgostosa. Olhou profundamente nos olhos do jovem
rapaz e disse sarcasticamente: - Tão dedicado ao que os olhos podem ver, mas
tão fraco e temeroso ao que se deve sentir que você parece ter se esquecido de
como é saber que não é só você a viver nesse planeta.
Ainda
inconstante e com sintomas de quem se embriaga, o jovem começou a fitar
curiosamente aquela figura que para além da imaginação, parecia ainda assim,
sedutora e conhecedora. O demônio prosseguiu: - A natureza humana é realmente
curiosamente capciosa e cheia de detalhes insignificantes. Porque quase sempre
caminham para o mesmo destino, contudo, mesmo depois de tanto perambular pelos
confins desse reduto, ainda é intrigante como todos parecem nutrir um desejo
intencionalmente inconsciente só para não ser obrigados a se deparar com o
desconhecido. Continuamente fugindo das perguntas e com respostas para tudo que
não entendem. Simplesmente taciturna essa mania introspectiva e sem nenhum
caráter útil e prático.
- Mas um
Demônio? Exclamou o jovem com os olhos contorcidos de tanta dúvida e descrença.
- Como você pode ser um demônio? Quer dizer, a julgar pela sua aparência até
não é de se duvidar, vestido dessa forma como se tivesse saído de um filme pré-histórico,
ainda com essa postura de quem já viveu mil anos.... Enfim, se é quem diz ser, deve
saber da minha incapacidade de acreditar em fantasmas, maldições e superstições.
Nem ao menos tenho algum poder paranormal e nem chamei sua presença com
qualquer desejo ou oferenda. Afinal de contas ainda não consigo nem entender o porquê
de isso tudo estar acontecendo... Acaso estou sonhando? – Pensou por último e internamente.
O demônio parecia se divertir com a descrença de um novo convertido aos poderes
do invisível.
Calmamente a
criatura começou a dizer: - Não estou na sua presença por sua causa, sua
mudança será mais importante que qualquer serviço prestado. – Como assim?
Indagou o jovem. E o demônio respondeu: - Se fosse outra coisa que eu quisesse
com você, certamente já o teria, mas no seu caso, o temor que vai começar a ter
já servirá de exemplo para as pessoas que assistem você. Sabe, às vezes é
importante renovar a própria fama, vocês parecem se esquecer de coisas básicas
e que são importantes para todos nós, quero dizer, para a sua e a minha
existência. Antes que sobre para nós também, é bom que a sua raça comece a
colaborar.
O jovem
aliviado disse: - Então tudo isso é uma barganha? Quer dizer, como alguém tão
supremo como você vai precisar da minha crença? Que coisa mais incoerente um
ser sobrenatural vir me acordar pedindo para eu confiar nele. Tudo isso parece
bastante desnecessário, quando finalmente estava pegando no sono você me
aparece? Resmungou impaciente. O demônio já esperando aquela reação olhou
sinistramente para o jovem rapaz e se levantou da cadeira desembainhando um
punhal pontiagudo quando se aproximou agarrando sua mão sobre a mesa.
-
Infelizmente, como eu disse anteriormente, os seres humanos parecem ter perdido
a noção de tudo o que significa essa vida. Como prova da minha companhia com
você essa noite vou comer seu coração. O jovem paralisado por aquela situação
tentou se levantar, mas suas pernas pareciam adormecidas, não respondiam a sua
vontade de se levantar e começar a correr daquele lugar. A agonia de ver a
criatura tão de perto era como sentir a bafejada de um dragão respirando fogo
pelas narinas. Finalmente percebendo que aquele parecia ser seu fim, o jovem
sentiu a lamina do punhal percorrer seu peitoral enquanto a criatura se
admirava com as pequenas gotas de sangue que começavam a transbordar sobre o
deslizar da faca.