Escrever
é como descrever um outro ponto de vista e ler é como ver pelos olhos de outra pessoa,
pensar sobre o que foi o que escrito é como conversar sozinho sobre universos
particulares que se metabolizam num novo ser. Sempre que algo precisa ser
escrito, da mesma forma precisará ser lido, sem esse ciclo as coisas nascem
mortas. Quero dizer, tudo precisa fazer sentido, ter alguma aplicação prática e
conservar um certo grau de necessidade para se conservar pelo tempo e ter
validade no exercício cotidiano. Sem a consciência da urgência da vida, sem o
sentimento de contribuição e sem a confiança de que mesmo sem sentido num
primeiro momento, a auto realização de um dever cumprido é capaz de consagrar
alguma paz de espirito, mesmo que depois nada realmente faça sentido. A vida é
um todo muito complicado que só começa a se mostrar completa quando se encontra
o próprio lugar nesse processo intercalado de sequências ininteligíveis. Muitas
vezes acredita-se ser autônomo, estar no controle, autor da sua própria vida,
quando na verdade, viver nessa consciência é apenas mais uma forma de prisão. A
única certeza absoluta vem do silêncio, do sentimento inquietante que consome a
felicidade de todos nos unindo através da profunda e inabalável experiência que
nos conecta com a raiz da natureza humana, de que mesmo os erros podem
contribuir para acertos, que a vida é um direito de tudo e de todos. Pode ser que
agora nada faça sentido, nem seja capaz de se mostrar ideal agora, mas é a
rebelde esperança que continua alimentando os sonhos de coisas melhores e
contribuindo com que novas realidades se construam.
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