O principal animal de estimação
ainda parece ser o cachorro. Talvez pela sua docilidade, submissão e bom faro. Já
dizia a máxima: o cachorro é o melhor amigo do homem, mas porque será que esses
animais vêm substituindo pessoas? Quer dizer, sempre foi habitual e continua sendo
normal, adotar um cachorro de estimação e ele acabar sendo a companhia com quem
se passa grande parte do tempo. E com o tempo, o cachorro termina sendo tratado
como pessoa e se tornando um verdadeiro membro da família.
Não sei dizer ao certo o que se
passa, mas tentar entender porque os cachorros têm sido mais amados que as pessoas
é um desafio não muito difícil. Em geral acontece a mesma coisa, uma ausência
sentida, um desejo que não se cumpriu ou ainda a simples ideia de que conviver
com um animal seja mais fácil que outra pessoa ou a completa solidão. Primeiro
porque eles não falam, segundo porque geralmente mantemos uma relação de
completo domínio sobre o animal. Terceiro porque o animal se torna uma espécie
de coisa animal totalmente domesticada e consequentemente dependente.
Cachorro agora tem marca, define
modismos, classes sociais e carências. E o pensamento comum entre todos que tem
cachorro é: tudo está sobre controle. E justamente a partir desse momento o
animal deixa de ser animal. Começa a ser submetido à vontade humana alterando
sua essência animal. A ideia do controle sobre os animais não apenas maltrata
sua própria natureza, mas também causa em nós a falsa sensação de estar
convivendo com o que poderia ser uma pessoa. Apesar de toda a alegria que um
cachorro pode trazer para uma casa, ele não deixa de ser o que é: um cachorro,
que não é gente.
A sociedade capitalista
naturalizou algumas loucuras como essas, que com o tempo se tornaram motivo de respeito
pela cultura burguesa. A verdade é que os cachorros e outros animais tem
substituído o que se projeta ser outra pessoa. O problema talvez esteja no fato
de que uma pessoa não é um cachorro e um cachorro não seja uma pessoa. Parece
simples, mas as pessoas têm se confundido. O amor humano pelos cachorros é um
sentimento egoísta, caso contrário, o que explica o fato de haver tantos jogados
pela rua e em abrigos esperando por adoção?
Também gosto de cachorros, não
resisto quando os vejo, quero logo passar a mão. Só não é possível concordar
que seja normal colocar roupa em cachorro, comprar um carrinho de passeio e ter
um médico só pro cachorro, que o cachorro durma na mesma cama, que seja mais
respeitado que as pessoas. Que o cachorro seja paparicado e comercializado para
satisfazer a projeções humanas, sendo mais um instrumento do egoísmo e
hedonismo. Se vamos falar de proteção aos animais, que sejam usados parâmetros
que dialoguem com a realidade e não apenas com a percepção alterada de quem tem
um cachorro pra servir aos seus desejos.