Não sei o que a maioria diz e
pensa sobre todo esse processo de mobilização que tomou conta do Brasil nas últimas
semanas. É um movimento novo, diferente, mas nem por isso ingênuo. O histórico
de mobilizações no Brasil já tem história e por mais que só se saiba de livros,
ele influência de várias formas tudo o que tem acontecido. Não é estranho ver
comentaristas falando sobre as Diretas Já e o movimento de Impecheament do ex-presidente
Collor, como marcos desse histórico.
Fato é, que o que se vê nas ruas
de hoje não é fruto de um único e exclusivo motivo ou com apenas um objetivo. É
o “bota fora” ou “estou de saco cheio” que nós, brasileiros, temos cativado
como um alter ego dentro da sociedade, apenas esperando o melhor momento de
esbravejar. Mesmo essa história de sair às ruas é novidade para toda uma
geração que até agora apenas estudou os ideias da Revolução Francesa ou o herói
elitista Tiradentes nos colégios, por meio de livros licenciados pelo
Ministério da Educação.
Sobre os números... Provavelmente
muito mais do que 250 mil brasileiros saíram as ruas. As capitais não tinham lugar
para os carros, os principais pontos estavam e ainda continuam sendo tomados.
Os governos estão tendo que abrir mão de toda uma demagogia para controlar o problema
e ser mais práticos com as reinvindicações da população. Acredito que estão
percebendo a anarquia que o país pode entrar, caso os ânimos da população não
sejam acalmados.
No fundo todos os governantes
públicos do Brasil sabem que todo esse processo de mobilização não nasceu de
uma jogada política de partidos ou movimentos, foi natural, e isso é o que
parece mais assustar. Como hoje tudo se trata de uma eterna briga entre os
partidos, e estes não perdem tempo, com o tempo essa situação pode se tornar um
decisivo para os próximos passos rumo as campanhas presidenciais.
Sabem também que toda essa
retomada popular não se deve ao aumento de 20 centavos na passagem do
transporte público em grande parte do país. Essa parece ter sido apenas a gota
d’água para quem já teve de aturar esquemas de corrupções milionários dentro do
Congresso Nacional dentre inúmeros episódios de ficção aplicada a realidade quando
o assunto é: roubar.
Já a alguns anos que nenhuma
grande mobilização acontece de forma tão rápida e inesperada, mas quando
acontece, as pessoas parecem relembrar de quem realmente detém ou deve deter o
poder, ou seja, o povo. Sair as ruas sem o destino cotidiano, mas num ato de liberdade
pública manifestar todas suas ideias, de forma desinibida, isso é realmente
radical, mesmo numa Democracia. Ainda mais em se tratando da frágil, recente e
decente democracia brasileira.
Em tempos de politicamente correto
é preciso fazer uma nítida distinção entre manifestação e vandalismo no Brasil.
As mobilizações populares são sempre pacificas, somente os policiais militares
que vão armados, o povo mesmo só se arma com bandeiras e faixas. Sobre o
vandalismo, não faço apologia, mas concordo que a radicalidade proporcional
pode gerar bons efeitos dentro do ambiente político.
Só peço que os queridos leitores
que ajudem na ideia de que não devemos comparar o contexto atual com outros
momentos históricos. Nunca houve internet em outra época, nem nunca pessoas
usaram a mesma marcara em manifestações pelo mundo todo – me refiro ao V de Vingança.
Outra coisa nova é que as pessoas não seguiram um líder e sim houve diversas
lideranças, mas não uma única, centralizada e capaz de domar e focar toda a
demanda popular.