Escher
Com o desenvolvimento de técnicas
de controle mental e social, a ciência deixou de investigar os reais parâmetros
de sofrimento humano e começou a pesquisar como controlar pessoas. Houve uma troca de valores, ao
invés de tentar entender a realidade foi criado um mundo paralelo em que as pessoas se viram incluídas. O
que é real se tornou místico e o místico se transformou em realidade para
controlar mais pessoas e garantir o poder centralizado. A verdade e sua
capacidade transformadora foram deixadas de lado.
Hoje vivemos o estopim do místico
como sendo realidade. Mitos que se solidificaram como sendo verdades. Camadas
de verdade que fizeram com que a informação se tornasse um dos bens mais
preciosos. Como se a verdade estivesse em cápsulas que são guardadas a sete
chaves.
Realidade, religião e tecnologia
parecem ter se fundido num mundo mágico em que não se consegue distinguir o
real do imaginário. Quanto mais rígido um sistema de convicção mais ele parece
se firmar em bases imaginárias e místicas.
Ao contrário do que esperavam
alguns grandes teóricos de dois séculos atrás, o emergir da tecnologia não
conseguiu libertar a sociedade de pensamentos e hábitos mesquinhos e
irracionais. Pelo contrário, o misticismo de momentos históricos anteriores
ainda é tenramente perceptível no cotidiano moderno e se torna plastificado
pelo efeito tecnológico e pirotécnico do entretenimento moderno.
As músicas eletrônicas e toda a parafernália
moderna conseguiram dar a pobre ideia de renovação e modernidade. Como se o que
se pode viver hoje, não tivesse jamais sido cogitado e feito. Essa sensação de
novidade cria nas pessoas a sensação de desconsideração do contexto histórico e
lhes dá a impressão de que estão no auge. Como se pudessem viver a oportunidade
que muitos não tiveram.
Nasce dentro das cabeças humanas
a pobre sensação de auto controle e liberdade. E quanto mais essa ideia é
atiçada, mais a ideia paralela de um mundo surreal é fortalecida. Quanto mais
as pessoas se entusiasmam com as tais maravilhas do mundo moderno, mais se
tornam escravas de um sistema que na verdade não existe.
A ilusão de acreditar em uma
realidade diferente do que a que se vive, criou um novo espaço na mentalidade
social. É como se a vontade de acreditar em algo diferente do que é concreto,
conseguisse criar uma realidade paralela em que nada é real, quando na verdade
isso existe somente no campo da mente. Contudo, com o incentivo constante desse
modelo, criou-se um modelo de vida paralela.
A realidade foi ignorada e a fuga
social se tornou a criação de um mundo que não existe. E nessa “onda” de um
novo mundo, muitos se perdem e incorporam uma personalidade que não lhes é
natural e nem é condizente com a real realidade. Essa realidade paralela
aprisionou muitas mentes e acabou por realmente existir no imaginário, mas não
na concretude da real realidade.
Trata-se de um controle que se
assemelha a uma membrana por sobre a realidade. Mais intenso do que isso é
perceber que existe a necessidade de se relacionar com esse modo de interpretação
da vida para se conseguir estabelecer relações necessárias à própria
sobrevivência. E nessa de provar do irreal para permanecer existente vamos nos
contaminando com uma vida que não é real, mas que nos suga e exige nosso
comprometimento com uma vida que não queremos, nem concordamos.
Um comentário:
Adenevaldo, seu texto abre as portas para muitas questões que, de perto, são altamente pertinente. Em sentido lato, o importante no seu texto é a capacidade de apreender, com rigor crítico,as nuanças da mentalidade contemporânea ( ou, mais comumente, a pós-modernidade, se quisermos aceitar esse termo). Max Weber, um dos grandes pensadores da sociologia - por isso, considerado, ao lado, de Marx e Durkheim , o pai da sociologia- cria um termo específico para os "tempos modernos", qual seja: o desencantamento do mundo. Ao estudar o conceito de racionalidade no Ocidente, Weber, com grande erudição, detectou um aspecto fulcral das relações capitalistas, o efeito da racionalidade na vida as pessoas. Segundo ele, o desencantamento do mundo deu-se, fundamentalmente, pela ascensão de uma nova compreensão do mundo. Se, no período de outrora, o pensamento místico ( a maior expressão é o cristianismo do medievo) era senhor absoluto, a partir do capitalismo, o místico é triturado pela pela máquina chamada ciência. Ocorre, então, o desencantar do mundo - no sentido de acabar com a magia impregnada na vida das pessoas. A questão foi que, com o crescimento e legitimação dessa sociedade referenciada por valores racionalistas, o místico não desapareceu. Continuou ali, aparentemente, inerte, sem abrangência coletiva. Mas, sem aviso prévio, o místico fora ganhando lugar paulatinamente e, diferente do propaganda moderna, ele encontra-se no letreiro como uma sombra ( às vezes, anuncia suas palavras, vende seu produto, mas está lá)ganhando consumidores cansados de uma vida gélida, sem sentido ou mistérios. Alan
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