terça-feira, outubro 16

Realidade Paralela



Escher

Com o desenvolvimento de técnicas de controle mental e social, a ciência deixou de investigar os reais parâmetros de sofrimento humano e começou a pesquisar como controlar pessoas. Houve uma troca de valores, ao invés de tentar entender a realidade foi criado um mundo paralelo em que as pessoas se viram incluídas. O que é real se tornou místico e o místico se transformou em realidade para controlar mais pessoas e garantir o poder centralizado. A verdade e sua capacidade transformadora foram deixadas de lado.

Hoje vivemos o estopim do místico como sendo realidade. Mitos que se solidificaram como sendo verdades. Camadas de verdade que fizeram com que a informação se tornasse um dos bens mais preciosos. Como se a verdade estivesse em cápsulas que são guardadas a sete chaves.

Realidade, religião e tecnologia parecem ter se fundido num mundo mágico em que não se consegue distinguir o real do imaginário. Quanto mais rígido um sistema de convicção mais ele parece se firmar em bases imaginárias e místicas.

Ao contrário do que esperavam alguns grandes teóricos de dois séculos atrás, o emergir da tecnologia não conseguiu libertar a sociedade de pensamentos e hábitos mesquinhos e irracionais. Pelo contrário, o misticismo de momentos históricos anteriores ainda é tenramente perceptível no cotidiano moderno e se torna plastificado pelo efeito tecnológico e pirotécnico do entretenimento moderno. 

As músicas eletrônicas e toda a parafernália moderna conseguiram dar a pobre ideia de renovação e modernidade. Como se o que se pode viver hoje, não tivesse jamais sido cogitado e feito. Essa sensação de novidade cria nas pessoas a sensação de desconsideração do contexto histórico e lhes dá a impressão de que estão no auge. Como se pudessem viver a oportunidade que muitos não tiveram.

Nasce dentro das cabeças humanas a pobre sensação de auto controle e liberdade. E quanto mais essa ideia é atiçada, mais a ideia paralela de um mundo surreal é fortalecida. Quanto mais as pessoas se entusiasmam com as tais maravilhas do mundo moderno, mais se tornam escravas de um sistema que na verdade não existe.

A ilusão de acreditar em uma realidade diferente do que a que se vive, criou um novo espaço na mentalidade social. É como se a vontade de acreditar em algo diferente do que é concreto, conseguisse criar uma realidade paralela em que nada é real, quando na verdade isso existe somente no campo da mente. Contudo, com o incentivo constante desse modelo, criou-se um modelo de vida paralela.

A realidade foi ignorada e a fuga social se tornou a criação de um mundo que não existe. E nessa “onda” de um novo mundo, muitos se perdem e incorporam uma personalidade que não lhes é natural e nem é condizente com a real realidade. Essa realidade paralela aprisionou muitas mentes e acabou por realmente existir no imaginário, mas não na concretude da real realidade.   

Trata-se de um controle que se assemelha a uma membrana por sobre a realidade. Mais intenso do que isso é perceber que existe a necessidade de se relacionar com esse modo de interpretação da vida para se conseguir estabelecer relações necessárias à própria sobrevivência. E nessa de provar do irreal para permanecer existente vamos nos contaminando com uma vida que não é real, mas que nos suga e exige nosso comprometimento com uma vida que não queremos, nem concordamos.  

Um comentário:

Unknown disse...

Adenevaldo, seu texto abre as portas para muitas questões que, de perto, são altamente pertinente. Em sentido lato, o importante no seu texto é a capacidade de apreender, com rigor crítico,as nuanças da mentalidade contemporânea ( ou, mais comumente, a pós-modernidade, se quisermos aceitar esse termo). Max Weber, um dos grandes pensadores da sociologia - por isso, considerado, ao lado, de Marx e Durkheim , o pai da sociologia- cria um termo específico para os "tempos modernos", qual seja: o desencantamento do mundo. Ao estudar o conceito de racionalidade no Ocidente, Weber, com grande erudição, detectou um aspecto fulcral das relações capitalistas, o efeito da racionalidade na vida as pessoas. Segundo ele, o desencantamento do mundo deu-se, fundamentalmente, pela ascensão de uma nova compreensão do mundo. Se, no período de outrora, o pensamento místico ( a maior expressão é o cristianismo do medievo) era senhor absoluto, a partir do capitalismo, o místico é triturado pela pela máquina chamada ciência. Ocorre, então, o desencantar do mundo - no sentido de acabar com a magia impregnada na vida das pessoas. A questão foi que, com o crescimento e legitimação dessa sociedade referenciada por valores racionalistas, o místico não desapareceu. Continuou ali, aparentemente, inerte, sem abrangência coletiva. Mas, sem aviso prévio, o místico fora ganhando lugar paulatinamente e, diferente do propaganda moderna, ele encontra-se no letreiro como uma sombra ( às vezes, anuncia suas palavras, vende seu produto, mas está lá)ganhando consumidores cansados de uma vida gélida, sem sentido ou mistérios. Alan

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