sábado, agosto 25

Parte I:Pequenos contos fantástico de um camponês.

Como o renascer das cinzas, o Sol, com grandes lampejos de claridade uivante, levanta-se sobre o vilarejo da Cidade de Pedra. Fuller, pequeno camponês e agricultor, visualizou, de seu quarto, o amanhecer do dia. Um lindo momento, anunciando, na linguagem do universo, o triunfo da luz sobre a escuridão. Era como assistir, de perto, o nascimento de uma criança e ao receber o dom da vida, lutar, a cada dia, para o seu desenvolvimento.

A imagem produzida pela luz fazia, então, de modo total, refletir uma sombra no rosto de Fuller. Sabia, finalmente, que estava na hora de levantar-se. Lançando seus braços na parte mais baixa de seu cabelo, ao lado da orelha direita, balanço seus braços no cabelo e rapidamente olhou de banda procurando, com olhar sonolento, seu calçado feito de casco molhado de urso-pé-de-pano . 

Ao colocá-lo, abruptamente, levantou-se gradualmente e foi em direção à sala de comida. Escutou, de modo estrondoso, o cantarolar suave de uma linda voz. Obviamente, não poderia ser naquela hora da manhã, sua filha. Costumava acordar com a luz batendo na parte leste da casa, no momento em que o sol, assim como o barulho dos pássaros, ecoava no seu quarto. Certamente, a voz era de sua mulher. 

Nos últimos dias, tinha-se costume de acordar e ouvir sua mulher cantar. A cada desabrochar da manhã, e, às vezes, durante o final da noite e antes de mesmo de levantar-se de sua cama nas madrugadas frias, Fuller, ouvia, prazerosamente as canções criadas por sua mulher. Nessa manhã, o conteúdo da música continha algo diferente. Não se tratava, aliás, como era de costume, de batalhas antigas, lutas no mar, damas sendo salvas por seus cavaleiros, mas, de algo relacionado ao impossível .... uma palavra que embalava as outras palavras. Cada uma conjugava-se com a outra, chegando, em determinado momento, misturar como sinônimos as palavras e produzir , de certa forma, um efeito maravilhoso de alegria e paz. 

No fundo, aquelas palavras e o entoar melódico, faziam Fuller sentir o coração bater aceleradamente; uma sensação fora do comum, mas, que trazia um alívio existencial e aniquilava, a um só tempo, todos os sentimentos mortíferos. Num canto suave e purificador, a mulher entoava melodicamente: 


 O impossível, eu vejo num desejo 

 A possibilidade da impossibilidade

 me faz caminhar em meio ao mar tempestuoso 

A realização dos sonhos num olhar 

A estrela da manhã brilha sem parar

As flores da esperança, nascem, com vivacidade
no mais insólito pântano

 Com um olhar, e simplesmente, com um desejo eu posso confiar

 O impossível, pois, há de se realizar.


Fuller, sabia, visivelmente, que os deuses do Vilarejo eram reverenciados por toda a comunidade. Sua família, em especial, habituara-se a cultuar vários deuses. Mas, nas palavras pronunciadas por sua mulher, nunca tinha ouvido a palavra impossível. 

A princípio pensou seriamente que a mulher tinha retirado de alguma canção do vilarejo ou das Terras Distantes a palavra impossível. Tentou perguntá-la a respeito, porém, resolveu deixar de lado e ir para a colheita. Nos últimos dias, as terras da Cidade de Pedras estavam, em todos os cantos, frutíferas. Tudo que plantava, menos de um mês, brotava em abundância. Para Fuller, era uma ótima oportunidade para se plantar e, como resultado, adquirir uma colheita para durar todo o verão. 

 Naquela manhã, como em outros dias, despediu-se de sua mulher e de sua filha primogênita e, de modo alegre, partiu para a colheita. Sua pequena plantação ficava perto do lado Naisse, encostado com a grande Mata Brilhante. Na banda oriental, estreitando a floresta cinzenta; ao lado de sua plantação localizava-se as terras de seu grande amigo, Mairrou. 

Tinham se conhecido ainda na infância, quando o rei doou, em razão da vitória conquista no leste do reino, as regiões triangulares para os camponeses. Seus antepassados receberam uma vasta região para cultivo. Desde aquele dia, marcado por festas e comemorações, as famílias de Fuller e de Mairrou haviam guardado zelosamente a região para plantação e venda no mercado principal da Cidade de Pedra, o Pedregoso.

Um comentário:

A. T. disse...

Alan, dessa vez seu gênero textual fugiu do que eu poderia esperar. Esse conto me faz pensar em como alguém vivia durante a Idade Média e me parece ter muito de retratar o campo.

Esta ficando cada vez melhor...

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