Quando
vejo uma propaganda é sempre a mesma coisa. Trata-se sempre de um casal branco,
loiro; sendo o homem mais alto que a mulher com um casal de filhos sorrindo. Todos
saudáveis, bonitos, felizes e com as roupas combinando. Cristalizados numa
imagem de alta resolução e olhando para todos de cima de outdoors como se
vivessem o tão almejado mar de rosas. Mas num país como o Brasil onde a maioria
é negra e pobre, isso parece uma aberração, pois grande parte da população tem
cabelo enrolado e preto.
Alguém
conhece esse pessoal que faz propaganda?! Temos de dar alguns avisos. Dizer verdades
sobre como as coisas realmente são. Mas o fato é que ninguém parece perceber a
discrepância entre o que tentam vender e a realidade. Acabamos nos acostumando
tanto que nem parece haver diferença. Pelo contrário, o normal e habitual é
conseguir chegar lá. Ser o que é bom é ser o que esta na imagem.
Não
é de hoje que as propagandas procuram demonstrar uma realidade que só existe na
cabeça e no cotidiano de 1% de todas as pessoas. Mesmo assim essas propagandas
expressam uma realidade que não existe e em nada consegue reproduzir a verdade
da realidade. Mesmo assim dá certo, as pessoas acreditam que aquilo é bom,
aprendem a se enxergar naquilo. Tanto é que esse tipo de mershan sempre dá
certo.
Fico
imaginando se o homem branco, loiro de pele alva como as nuvens realmente é o
que parece. Se não é homossexual - nada contra, mas justamente pela imagem que
vendem seria uma afronta o hetero ser homo. Ou quantos retoques de Photoshop
foram necessários para que aquela foto ficasse daquele jeito. Se a mulher que
parece tão angelical e doce é na verdade uma despeitada deprimida que não
consegue se exprimir e por isso costuma se drogar no banheiro de algumas casas
de dança. Se as crianças do comercial não são adotadas.
Não
estou querendo parecer pessimista e sim aplicar as noticias cotidianas
veiculadas por todos os lados. A cada dia que passa os noticiários conseguem
explorar ainda mais um mundo podre e nojento, nem parece estar falando do
mundo. E de repente, as propagandas tentam esconder tudo isso. Como se um outro
mundo fosse o correto, mas usam isso para vender mais e ignoram todo o contexto
da veiculação daquele marketing.
Existe
um disparate entre a imagem que usam para vender e a imagem dos que compram. É
muito louco pensar que pessoas muito diferentes se atraem por algo que em nada
lhes é condizente, que não traduz suas reais necessidades, muito menos expressa
sua natureza ou sua própria história.
A
partir dessa lógica só concluo que essas imagens carregam o ideal, o mais
sacramentado jeito de ser. Os comerciais realçam este tipo ideal formando em
quem vê essas propagandas a ideia sobre o que buscar e como buscar. O ideal
sobre o que consumir é aos poucos introduzido nas mentes coletivas que se
acumulam nos semáforos olhando pros outdoors e folheando páginas de revistas
com mais propagandas.
2 comentários:
Gostei!Bem sacada a critica...
Esta daria um bom trabalho cientifico na perspectiva marxista fenomenológica... pois é uma testemunho da leitura de mundo comercializada que temos e idealizados... sem falar nos outros aspectos..
abraços
"(...) discrepância entre o que tentam vender e a realidade." Na teoria marxista - não na tradição leninista, mas autogestionária -, para isso dá-se o nome de ideologia. A ideologia, nessa perspectiva significa uma "falsa consciência materializada". As propagandas de TVs, outdoors, jornais, entre outros, são, por excelência ( mas não os únicos), espaço das ideologias, ou melhor, das ideias que nada representam à realidade. Porém, o que percebemos é o mascaramento desse processo... ninguém pergunta ao certo quem produziu tais ideias, representam quem, qual objetivo ao produzir uma realidade totalmente distorcida? É nesse sentido que o aspecto social de um filme, livros,enfim, das ideias é clarificado e, com efeito, começamos a saber a origem de tais ideias e sabemos quais classes representam. As ideologias nunca poderão representar a realidade, pois, ao entrar em contato com a realidade concreta-história, invariavelmente, serão sucumbidas!
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