Uma palavra nova para descrever
uma ordem de comportamento masculino bastante velha, porque não dizer, do
machismo em si. Poderia ser que as maiores prejudicadas fossem as mulheres, que
padecem com a ignorância e o preconceito dos homens à sua volta. Mas isso
começa muito antes, desde o nascimento o destino dos homens é traçado e contra
isso não há o que discordar, pela ordem natural, como os religiosos gostam de
dizer, não se pode mudar o que está e existe como homem. Junto com essa
designação de ser homem surgem obrigações, vocabulários e posturas a serem
cumpridas sem questionar seu resultado e o antropocentrismo no seu sentido mais
sexista.
Fato é que a sociedade é criada
para e com os homens, mas ser Homem nessa sociedade não significa apenas ter pênis.
Não gosto das literaturas de linguagem corporal, porque em geral tendem a
naturalizar comportamentos e posturas oligárquicas, como se todo homem fosse
igual. O discurso de que os homens são o centro do mundo peca por desconsiderar
que a maioria dos homens não chegam nem perto do ideal de perfeição perseguido
pelas instituições. Nós homens, não somos iguais em nada, a não ser pelas
mesmas feições corporais que dizem que nós somos homens.
Existe uma diversidade e uma
pluralidade de homens e comportamentos masculinos muito maior que se possa
constatar prestando atenção nas definições de homem vendido e empurrado goela
abaixo. Se as mulheres sofrem com o machismo, primeiro sofrem os próprios
homens, que antes de saber quem são, passam por uma lobotomia moral de
obrigações do homem dentro da sociedade. Grande parte dos homens vivem à margem
de como deveriam ser os homens, são pessoas invisíveis, vistos como se fossem
bonecos espalhados pelo corredor, por não concordar ou deixar de viver conforme
dita a civilidade.
Aos poucos o machismo começa a
ser revisto e toda sua estrutura despercebida se torna visível, as violações cotidianas
começam a ser questionadas e vagarosamente desconstruídas. Junto deveríamos
discutir porque os homens agem como agem, o que acontece na educação dos
meninos que os torna tão sexistas e indulgentes em relação às mulheres. Porque
homens diferentes são invisíveis. Que conceito é esse do homem ideal que
aparece nos sonhos e ilusões coloridas retrovivenciadas na sociedade. Porque
esses romantismos filosóficos e estéticos da Roma e Grécia Antiga são ainda um
ideal perseguido por uma sociedade doente como a nossa.
[Quem sabe os movimentos
feministas que lutam não apenas pela igualdade das mulheres, mas dos homens e
mulheres, possa discutir esses aspectos, sem ser preciso criar um outro grupo
para fazer essa reflexão]
Existem belos exemplos de
sociedades em que mulheres e homens viviam de forma consensual, sem distinções
trabalhistas, civis e intelectuais. Em geral, sociedade antigas que não existem
mais, a não ser por registros históricos, e que viviam em pequenas aldeias e
comunidades. E porque é que ainda hoje, quando existe informação e tecnologia o
suficiente para construir um mundo mais justo e solidário continuamos
encalhados em paradigmas e tabus, expandindo indústrias do entretenimento, da
agricultura e de laboratórios e chamando isso de desenvolvimento? O homem tem
falhado consigo mesmo, com seus irmãos e irmãs e com a natureza.
Primeiro o homem foi obrigado a
se chocar consigo mesmo, depois com o seu próximo, depois com o seu igual, e
finalmente com o mundo exterior. O machismo e sua ideologia permeada junto do
mercantilismo foi um grande impulso na formação da civilização e estruturação
da formação da família, da educação e do patriarcalismo. A verdade é que nos
tornamos vítimas das próprias vontades e interesses, agora o Mundo e a própria
sociedade começa a dar sinais dos seus limites. Sem uma mudança profunda esse
sistema continuará existindo, mudando apenas de roupagem e se alimentando das
nossas forças criativas e inovadoras, causando nosso próprio martírio e
sofrimento.
As categorias espirituais pregam:
é bom que os homens sofram, padeçam e sintam a dor que o Mundo transmite, para
poder refletir sobre suas ações, seus pensamentos, suas vontades e seu caráter.
Só assim saberá que força está alimentando. Qual lobo dentro de você vai
vencer? O bom ou o mal? Esse pode ser um bom caminho em busca do
descondicionamento e da sua verdade, mas o sofrimento é sempre uma opção e hoje
partindo de faculdades mentais, podemos simplesmente abrir os canais do coração
para a sensibilidade, inteligência e solidariedade, trocando de lugar antigas
concepções por novas constatações mais justas, fraternas e sem sofrimento.
Uma decisão individual é capaz de
fazer muita diferença em nossa sociedade, o conjunto de decisões individuais em
torno do mesmo propósito é capaz de provocar inúmeras outras mudanças. Esse
poder de transformação individual, e simultaneamente coletiva, precisa ser
usado para bons propósitos e quem sabe com esse novo exemplo seja possível parar
de reproduzir essa selvageria urbanizada que antes encontrávamos nas lutas por
sobrevivência na selva e começar a compartilhar as riquezas. Se de alguma forma
a violência continua existindo, significa que de alguma forma continuamos
caminhando para trás.
Um comentário:
Normas... não sei se vem de regras ou de normais. Mas a encruzilhada que coloca as normas como sendo "regras normais" (normalizadas) encaveira a gente. Não parece muito viável a vida anormativa, mas discutir as normatividades como é o caso é útil, é bom. Talvez por tudo isso que escreveu nesse texto é que nenhum homem precisa se ofender com o feminismo. Afinal, quem é que pode mesmo se identificar com esse heteronormativismo? Aliás, a heteronormatividade é de ordem patriarcal, mas não de ordem masculina apenas né.
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