Como o renascer das cinzas, o Sol, com grandes lampejos de claridade uivante, levanta-se sobre o vilarejo da Cidade de Pedra. Fuller, pequeno camponês e agricultor, visualizou, de seu quarto, o amanhecer do dia. Um lindo momento, anunciando, na linguagem do universo, o triunfo da luz sobre a escuridão. Era como assistir, de perto, o nascimento de uma criança e ao receber o dom da vida, lutar, a cada dia, para o seu desenvolvimento.
A imagem produzida pela luz fazia, então, de modo total, refletir uma sombra no rosto de Fuller. Sabia, finalmente, que estava na hora de levantar-se. Lançando seus braços na parte mais baixa de seu cabelo, ao lado da orelha direita, balanço seus braços no cabelo e rapidamente olhou de banda procurando, com olhar sonolento, seu calçado feito de casco molhado de urso-pé-de-pano .
Ao colocá-lo, abruptamente, levantou-se gradualmente e foi em direção à sala de comida. Escutou, de modo estrondoso, o cantarolar suave de uma linda voz. Obviamente, não poderia ser naquela hora da manhã, sua filha. Costumava acordar com a luz batendo na parte leste da casa, no momento em que o sol, assim como o barulho dos pássaros, ecoava no seu quarto. Certamente, a voz era de sua mulher.
Nos últimos dias, tinha-se costume de acordar e ouvir sua mulher cantar. A cada desabrochar da manhã, e, às vezes, durante o final da noite e antes de mesmo de levantar-se de sua cama nas madrugadas frias, Fuller, ouvia, prazerosamente as canções criadas por sua mulher. Nessa manhã, o conteúdo da música continha algo diferente. Não se tratava, aliás, como era de costume, de batalhas antigas, lutas no mar, damas sendo salvas por seus cavaleiros, mas, de algo relacionado ao impossível .... uma palavra que embalava as outras palavras. Cada uma conjugava-se com a outra, chegando, em determinado momento, misturar como sinônimos as palavras e produzir , de certa forma, um efeito maravilhoso de alegria e paz.
No fundo, aquelas palavras e o entoar melódico, faziam Fuller sentir o coração bater aceleradamente; uma sensação fora do comum, mas, que trazia um alívio existencial e aniquilava, a um só tempo, todos os sentimentos mortíferos. Num canto suave e purificador, a mulher entoava melodicamente:
O impossível, eu vejo num desejo
A possibilidade da impossibilidade
me faz caminhar em meio ao mar tempestuoso
A realização dos sonhos num olhar
A estrela da manhã brilha sem parar
As flores da esperança, nascem, com vivacidade
no mais insólito pântano