“O grande lance do futuro é que ele muda cada vez que você
olha para ele. Justamente porque você olhar para ele... e isso muda todo o
resto” (Filme O Vidente de Lee Tamahori)
-Mas, oh grande Vidente, lhe pergunto, uma vez mais: se olharmos para o
passado com a mesma intensidade que olhamos para o futuro não poderemos, de
quebra, mudá-lo? Aliás, se a menor das criaturas pode mudar o rumo do mundo, do
mesmo modo, o menor dos pensamentos – em duração e intensidade – podem produzir
um efeito catastrófico ou benéfico em nossas vidas.
Com olhar de criança, às vezes, olhamos para o passado e, sem muitas
palavras, observamos como esse simples “olhar” tem o poder de mudar, por
completo, todo o nosso presente (e porque não dizer o futuro?!). É incrível a
força de impacto de nosso passado, principalmente, de momentos marcantes que,
em sua forma original e/ou contada, fazem-nos voltar ao mais remoto passado e
revivê-lo.
Porém, ao olhá-lo – e, talvez, podemos assemelhar a imagem no espelho – à
imagem refletida do passado lança, com
efeito, luzes ao futuro (já) constituído temporalmente. Destaca-se, que, ao
olhar para o passado, esse futuro já está posto, isto é, a(s) expectativa(s)
que indivíduos do passado conseguiram projetar é nada mais, que planos, sonhos,
projetos, ações, etc., materializadas. Perguntar-se: realidade, ou passado,
construído para quem? Obviamente, para nós que estamos no presente olhamos, com
certa afinidade, o passado. Somente (mas não unicamente), a partir de nosso
presente, é que o “futuro do passado”, pode ser visualizado.
Os indivíduos do passado , não esqueçamos, têm suas expectativas sobre o
futuro, mas, só podem efetuar a mesma equação olhando , é claro, para o próprio
passado e, assim, extrair o “futuro do passado” de outras comunidades e
indivíduos. A diferença resida no fato que, ao olhar para o futuro, e não para
o “futuro do passado”, o poder de impacto será de certa forma amenizada. Porque
amenizada? O futuro, para esses indivíduos, é somente uma expectativa (no campo
filosófico do pensamento, uma mera abstração intelectual), pois, não possui
materialidade concreta. É importante colocar que isso significa que os
indivíduos e, de igual modo, a sociedade está presa a sua época. As pessoas não
podem estar à frente de sua época. O espaço de experiência das pessoas lhe conferem,
se quisermos pensar concretamente, certos valores, ideias, entre outras
coisas., que são típicas da época ( e não dum futuro distante). O passado e o futuro, por mais paradoxal que
sejam, estão relacionados, ou melhor, se entrecruzam numa relação recíproca.
Para um maior aprofundamento
da teoria conhecida como “futuro do passado”, é importante ler a obra do alemão
Reinhardt Koselleck intitulado "Futuro do Passado: contribuição á semântica dos tempos históricos"