quinta-feira, abril 19

A insustentável leveza do ser



É estranho ou, até mesmo, ilógico se imaginar voando sem equipamentos construídos, tecnologicamente, pelo homem ( aviões, paraquedas, etc). Sem esses equipamentos, a ideia de voar é completamente descartada. Mas, como consenso geral, o ator de voar, é relegado a filmes e, não muito distante, as histórias em quadrinhos (HQs). Enfim, como se percebe, voar é transportado, artificialmente, para meras produções de cunho “fictício”. Voar, diga-se de passagem, em todos os casos, implica um sentimento de liberdade bastante aquém da condição humana? Fácil de perguntar, mas, difícil de ser respondido.

No entanto, deparamo-nos, cotidianamente, com situações que descortinam, por completo, toda esta concepção sobre o ator de voar. Pois, na verdade, podemos voar ( obviamente, não como os pássaros), mas de uma forma singular e extraordinária: pelo nosso ser. O voar, pensando nesta perspectiva, se apresenta de forma diferente, exige, como requisito básico, o desvencilhamento de nossos desejos mais profundos. Diante disso, duas perspectivas, geralmente contraditórias, se cruzam e se relacionam mutuamente: a leveza e o peso.

Dois polos tão díspares, mas, que, se entrelaçam na formação de nosso ser. Por isso, há, quase sempre, em nossas vidas momentos que ofuscam-nos, levando, a viver com o peso – lastimável ou prazeroso- de nosso ser. São, aliás, momentos de intensas realizações. Sentimo-nos, com o mais pesado fardo. No entanto, ele é suportável, pois, nos traz felicidade e, por hipótese alguma, queremos perde essa sensação gloriosa. Pensamos mais profundamente, e essencialmente, é esse peso inexorável que nos deixa mais próxima da terra, de nossas vidas e faz acreditar que somos humanos ( demasiado humano).

Mas, como pano de fundo, há momentos que o nosso ser fica livre desses fardos, o nosso corpo se torna mais leve que o ar. Já não ficamos presos a um corpo físico, como também, aprisionados pelos seus desejos. Voamos, nos distanciamos da terra. Alcançamos as nuvens laranjadas do crepúsculo que, como nós, estão ali temporariamente, podendo, a qualquer momento, se dissolver ou mudar de lugar. Porém, como o superman, às vezes, a criptonita verde está instalada em nosso ser, perdemos essa leveza e voltamos, paradoxalmente, para a nossa condição de outrora: o peso. A gravidade, portanto, nos domina.

O que escolher: o peso ou a leveza?

Tudo (Não importa a circunstancia, peso ou leveza) pode-se acabar a qualquer momento. Eis aí, afinal, a harmonia de contrários que não cessam de se transformar constantemente, eis aí, finalmente, o que Milan Kundera chamou , em seu romance, de “A insustentável leveza do ser”.

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