sábado, março 10

O Brasil de A.C. era mais moderno que hoje


Existem coisas mal explicadas em nossa sociedade. Como por exemplo, o que de fato é moderno? Pelo que se comumente sabe, trata-se de ter o carro do ano, de roupas com tecidos estrangeiros e um corpo magro, delirante e sensual. Refletindo melhor, isso é o que se vende. É o estereotipo que rende milhões a pouquíssimas pessoas. A idéia da modernidade se apresenta com a adoção do pensamento racional e do antropocentrismo. Mas haverá caráter racional e de valorização do homem dentro de nossa sociedade?

Os índios, não os do século XXI, os realmente modernos e que existiram antes de Portugal achar que era dono do Brasil. Esses sim refletiam a modernidade. Não trabalhavam excessivamente porque afinal de contas eram racionais e sabiam que a morte chega para todos; não adianta nada trabalhar arduamente e depois morrer. Não possuíam armas ou bombas atômicas. Suas crianças não possuíam apenas os pais naturais. A aldeia como um todo era pai e mãe ao mesmo tempo. Dentro da lógica tradicional isso é uma questão habitual, usual, todos sabem. Mas se formos pensar na dialética que há entre o que era nosso pais e no que se tornou, perceberemos que a idéia de modernidade atual é algo contraditório e cheio de ilusão.

Andavam nus, mostravam seu corpo a todo mundo e não havia quem os condenasse por ordem divina ou por atentado ao pudor. O sexo se praticava na aldeia e dependendo da situação em qualquer lugar. Não havia exagero. Sua vida era pacata e seus deuses não determinavam o futuro de ninguém. A calma, a paciência e a sinceridade é que determinava o ritmo das atividades. O tempo não era controlado. Nada vinha de fora. Tudo o que precisavam era produzido por eles mesmos, até mesmo sua própria inteligência e tecnologia. O alimento era compartilhado junto com as obrigações e por isso ninguém passava fome.

Os homens não possuíam o espírito de sexo dominante e as mulheres jamais foram tratadas como sexo frágil. A divisão de tarefas era determinada pelo sexo, mas isso não impedia exceções. Homens e mulheres respeitavam a natureza. Não havia o desejo de um sobre o outro nem de acumulo. A arte era simbolizada pelos seus próprios corpos. Nem sabiam o que eram mendigos, terno ou vinho.

As mulheres gordas não eram vistas com desprezo. Os homens tinham sua natureza respeitada. O canibalismo era medonho, no entanto todos o conheciam. Não omitiam essa característica ou faziam de conta que era uma ideologia e que todos eram santos. Não havia hipocrisia em excesso. A própria sociedade não ignorava seu lado podre. Se é que assim pensavam a respeito de sua cultura e suas tradições. Como já afirmei, jamais olhavam para si ou seu semelhante com preconceito.

Como em qualquer comunidade humana, havia tribos anti-sociais e ignorantes. Em geral haviam compreendido que não há uma luta a ser travada com a Natureza. Que se trata de um ser vivo como outro qualquer e que se pode obter benefícios se as leis de convivência e respeito forem mantidas. As músicas eram produto de sua própria cultura, não careciam de um dicionário para entender o que ouviam.  

A mídia era o canto de pássaros. Não chegaram ao ponto de ter de transformar areia em vidro, petróleo em plástico e pedras em cimento. Souberam por milênios manter o ambiente do mesmo jeito que estava mesmo antes de nascerem. Respeitaram o seu ambiente e aprenderam remédios e outras dezenas formas de viver bem sem ser preciso escravizar alguém.

Não precisavam ler livros para arrumar um emprego ou aprender a respeitar. Sentiam e se orientavam pela intuição. Pelo bom senso. O conforto era estar vivo, com saúde e em paz. Desconsideraram a importância de ter ao invés de ser. Pelo contrário, foram e não tiveram. Calaram-lhe a boca e foram submetidos a crueldades. Sua cultura foi destruída e hoje ainda são conhecidos como quase alienígenas.

Estes sim eram modernos. Hoje a população exibe seus corpos e diz que se trata de ser moderno. As pessoas estão voltando a querer um contato maior com a natureza. Estão sentindo falta de sentir a si e ao mundo natural que os cerca. Perceberam que a complicação deste século não garante felicidade a todos e sim a somente alguns poucos.

Na época em que índios viveram não havia pobres e ricos, por isso jamais fez sentido haver preconceitos, objetos de ostentação ou vitrines de exposição. Todos eram iguais em essência. O Brasil era mais moderno há milhões de anos atrás. O que se chama de moderno é cansativo, destrutivo e falso. Apenas existe para garantir o sucesso, a bonança e a prosperidade de uns poucos na sociedade. No fundo sabemos que no pódio há espaço somente para uma pessoa.

Um comentário:

Mábia tristão disse...

Uma questão bastante urgente para pensarmos. O termo "moderno" é designado para uma determinada classe social,aquela que conseguiu alcançar o mais alto grau de "civilização". É necessário enterdermos que não há uma unificação de cultura universal, segundo James Cliforrd há um multiculturalismo, ou seja, uma politividade de diferenças entre cada cultura. Mas o nosso eu-carregado das nossas pré-noções; individualistas, preconceituosas, não entendemos que somos apenas diferentes, não melhores.

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