sexta-feira, julho 8

Dilemas do amor: Quo Vadis Humanitas?



















Édipo e seu amigo Policarpo estavam conversando sobre o amor, indagavam um ao outro sobre esse sentimento: como os antigos olhavam para ele? Porque amavam? Ou afinal, para que servia o amor? Essas e outras perguntas se faziam presente nas discussões dos jovens Édipo e Policarpo.


Estando na Biblioteca Municipal de sua cidade, os jovens - Édipo e Policarpo - buscavam algum livro que falasse sobre o amor, ou alguma coisa do tipo. Enquanto Édipo buscava fervorosamente questões referentes ao amor, seu amigo, Policarpo, olhava para o tempo, como quem não estava interessado naquela pesquisa.


Édipo, pesquisando nos livros de romances dos séculos XVIII e XIX, percebeu que o amor, na maioria das vezes, não era uma experiência pessoal, autônoma. O casamento, seguido do amor, consumava-se na base de considerações sociais e julgava-se que o amor se desenvolveria depois de efetuado o casamento. E, descobriu que no século XX, surgiu uma nova concepção de amor, que se diferenciou, completamente, de anos anteriores. A felicidade do homem moderno consistia na sensação de olhar as vitrinas das lojas e em comprar tudo quanto esteja em condições de comprar. Da mesma forma, essas relações mercadológicas infiltraram-se nas relações sociais, levando o homem e a mulher a encarar-se da mesma forma.


Para o homem, uma mulher atraente, e, para a mulher, um homem atraente, é, pois o lucro a obter. Atraente, portanto, vem a significar, normalmente, um bom fardo de qualidades que sejam populares e muito procuradas no mercado da personalidade. Assim, duas pessoas se apaixonam quando sentem haver encontrado o melhor objeto disponível no mercado, considerando as limitações de seus próprios valores de troca.


Édipo ficou bastante triste quando tais pensamentos vieram a sua mente. O amor, aquele amor do qual pesquisava com tanto afinco, tornando-se mero e simples objeto de compra e, por vezes, de venda.


- Édipo, vamos embora, ainda temos que ir ao cinema - falou Policarpo tentando chamar à atenção de Édipo e acabar com aquela conversa chata sobre amor.


-Sim, Policarpo. Já estou indo - respondeu Édipo.


Estando no cinema, Édipo, começou a refletir sobre o filme de amor que se passava. Viu como estava abarrotada a sala de cinema, tinha muitas pessoas, era como se todos estivessem procurando algo a mais, do que assistir um simples filme. Notou - em decorrência da mudança súbita do amor no século XIX - que os filmes de cinema, contos amorosos de revistas e canções de amor, encontravam satisfação, por parte dos consumidores. Homem e uma mulher que são incapazes de chegar a penetrar a parede da separação naquela pequena sala de cinema comovem-se até às lágrimas caírem. Para muitos assistir aquele filme significava uma única ocasião em que experimentavam o amor, não entre si, mas juntos, como espectadores do amor alheio. O amor, naquele momento, se tornava um sonho acordado.


Mas e quando o filme acabar junto com as histórias de amor, e o que tiverem não for suficiente para encobrir essa lacuna no homem e na mulher, o que eles vão fazer? Quando voltarem à realidade das relações entre duas pessoas?


Além de perceber os subterfúgios que o homem (tentava) criar para encapuzar sua solidão. Édipo reconheceu que a falta de amor levou o homem a criar inúmeras fórmulas efêmeras para acabar com sua tristeza. A presença do amor poderia, se não acabar, minimizando a dor existencial da humanidade.


Logo que saiu do cinema, Édipo, ao olhar o mundo a sua volta, sentiu um grande ceticismo entrar em seu coração. Era como se o amor tivesse uma longa jornada a sua frente e que sem o amor a humanidade não poderia sobreviver.


O amor - pensou Édipo - é um desafio constante para todos, não é um lugar de repouso, mas lugar de mover-se, crescer, trabalhar conjuntamente. Haja harmonia ou conflito, alegria ou tristeza, o amor deve ser à resposta amadurecida ao problema da existência. Deve, igualmente, ser a força ativa no homem, a força que irrompe as paredes que separam o homem de seus semelhantes e que o une aos outros. Que o leva a superar o sentimento de isolamento e de separação, permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo, reter sua integridade. É um processo de erguimento e não uma queda. Mas, diante de tantos desafios impostos à humanidade, o amor poderia prevalecer?

Sem falar nenhuma palavra, Édipo, pensou com sigo próprio: Para onde vai a Humanidade?

Quo Vadis Humanitas?



Referências Bibliográficas:


ALENCAR, Francisco. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico,1996.


FROMM, Erich. A Arte de Amar. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

4 comentários:

A. T. disse...

O amor é algo tão importante na vida humana e no entanto, tem se tornado mercadoria junto com todo o resto que nos resta. O prazer por exemplo é algo que pode se comprar, mas dificilmente o amor se tornará uma mercadoria.

Muito boa sua postagem Alan, nos desperta para questões emergenciais.

Parabéns!

Anônimo disse...

creio que o amor sempre foi e sempre será uma troca. isso não é um evento que acontece decorrente do século xx. a partir do momento em que duas pessoas tentam um relacionamento, sendo esse carnal ou não, sempre existe um jogo de interesses. me parece estranho um relacionamento onde ambas as partes não possuem nada a oferecer. o problema não é esse, e sim encontrar alguém que aceite o que você possui e que também aceite dividir a bagagem que tem. é um processo natural. ou você ama a todos? nem jesus, meu caro. nem jesus.

Unknown disse...

acho que ele procurou o amor no lugar errado. nem tudo se encontra numa biblioteca.

Mábia tristão disse...

Cada pessoa projeta em sua mente, uma concepção de amor diferente. Para alguns ele só será vivenciado, se ele tiver posse do objeto dos seus desejos, para outros o amor ficou estagnado em uma curva do destino. Mas devemos pensar que o amor nem sempre será da forma que o senso comum imagina; ele é algo superior, muita vezes imaginário ou simplesmente um companheiro que nunca vamos ter, não por decisão, mas por ser a única escolha.

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