Sicofantas!? Na verdade, o que é sicofantas e o que tem haver com o nosso retrato?
Uma palavra bastante enclausurada em nossos dias, quando mais o seu sentido para aqueles que se enquadram nesse contexto. Sicofantas é uma palavra de origem grega e talvez, dependendo do contexto em que é aplicada, pode se aproximar do que consideramos “salafrário”, “caluniador”, “hipócrita”. Mesmo sabendo dessa etimologia, é necessário recordarmos seu emprego na Grécia Antiga, assim, poderemos entender o quanto essa palavra, aparentemente vazia, pode significar, ou mesmo, retratar quem somos no mais profundo âmago do nosso ser.
Antes de tudo não devemos esquecer, que falar em Grécia Antiga é trazer a memória um dos maiores impérios já vistos no mundo, com seu poder e glória. É falar no berço dos pensamentos filosóficos e na civilização que conquistou. Transladou limites e se colocou, entre tantos outros povos, como superior. É, portanto, falar dos grandes poemas de Homero, é falar de Esparta e Atenas, falar de Alexandre, O Grande. Falar em Grécia, contudo, lembra também, como se comportavam os sicofantas.
Os donos - pessoas ricas, aqueles que na Grécia tinham algo, possuiam poder e autoridade para ditar as regras, como reis - de grande terras tinham, na maioria das vezes, pomares de frutos, principalmente de figos. Contudo, havia o medo de que os pobres que andavam pelos campos roubassem os frutos de suas plantações. Para tanto, colocavam um lacaio para guardá-los, os quais quando um pobre, uma mulher, crianças, jovens, pegava algum fruto, punha-se a gritar: “ladrão”, “pega!”. Esse era o sicofanta, o indivíduo que tinha o papel de gritar em defesa do fruto se seu senhor, um lacaio a serviço dos mais favorecidos, daqueles que poderiam oferecer algo de valor. Enquanto os outros, que não tinham nada, e que procuravam algo para sobreviver - como os frutos - e os sicofantas vendo, saiam a gritar. Parece à primeira vista nos ser tão distante esse fato, mas pelo que temos presenciado ultimamente, é o que de mais atualizado os jornais tem dado conta e temos visto.
Quantos estão aí, fazendo papéis de sicofantas, dizendo que fazem o bem, que atendem aos interesses igualitários da povo. Mas que, na verdade, atende aos desejos daqueles que tem algo a oferecer materialmente. Esperando, como o lobo do chapeuzinho vermelho, sua preza para arrebanhar. Falam do povo, de nós, que fazemos tudo errado, por um motivo x, etc. Que precisamos de ajuda, porque fazemos coisas erradas, e que, por final, não conseguimos nada na vida por vivermos assim e não daquele jeito, etc. E nisso chamam tantas pessoas de fora, de segmentos estadunidenses. Como fazem os sicofantas, ao verem alguém pegando as frutas, chamam seus donos. Assim, também o fazem, ao falarem do povo, dizem que as soluções dos problemas podem vir somente se aceitarmos a ajuda dos outros. Sendo que a verdadeira solução, seja em qual contexto e lugar, deve emergir, primeiramente, daqueles que sabem e convivem com o problema de perto. Somente aqueles que padecem podem achar a solução, mesmo que isso seja um trabalho árduo. E não aqueles que vivem praticamente em outro mundo e espaço, alheios a verdadeira realidade. E, infelizmente, quando se deparam com as pessoas pegando os frutos (Que , na verdade, são as pessoas tentando achar a solução de seus problemas), querem culpa-las, e dizer que "não é dessa forma que você vai conseguir, mas do meu jeito." Logo gritam por seus donos e, pronto, está resolvido o problema. Será que os problemas acabam dessa forma?
Deveras vezes temos feito papel de sicofantas, precisamos abrir nossos olhos e deixar que as escamas caiam de para ver a realidade que não queremos ver ou simplesmente não interferir.
Alan Ricardo