
Diariamente, a definição de medo está ou tem recebido uma expressão pejorativa, “aquele que tem medo é inferior, “Homem que é homem, meu filho, não tem medo”. O medo em qualquer lugar é tido como um sentimento para pessoas fracas, porque somente aqueles que são ditos fortes, não tem medo de “nada”. Contudo, deve-se perguntar, antes de considerar o medo, seja para fracos ou para fortes, de qual medo se trata. Ou então, medo de quê?
Numa linguagem freudiana; medo da castração? Medo de ser morto, preso, de morrer de fome? Medo de não ter? Medo de não ser? Medo de não ter um trabalho, que, aliás, seja bem remunerado e com bastante status na sociedade? Medo do medo? Medo de não ter medo? São tantos medos que temos, mas, resta identificar - o que é difícil - mesmo em simples palavras, qual será o maior medo que sobreponha os demais. Tarefa difícil, existem particularidades que desembocam para outros medos, mas como se tem dito por sociólogos, psicanalistas e filósofos, o maior medo de uma sociedade capitalista é o medo do isolamento.
O homem depois que transcendeu a natureza e adquiriu consciência de si e da morte viu a sensação de solidão e isolamento se tornar próxima da loucura. É necessário que, cada uma de nós, esteja correlacionado, em união com os outros. A necessidade de conviver com os outros chega a ser paixão mais forte do que o sexo e, pode-se afirmar mais forte mesmo que o desejo de viver. É o medo do isolamento e ostracismo, que faz aceitarmos, o que a sociedade considera como certo, ignorando nossa opinião, portanto, o âmago subjetivo. Pois, caso contrário, se não aceitássemos, isso representaria ser diferente (O que não é bem visto pela sociedade).
Assim, não chegamos a nós mesmos, deixamos de ser aquilo que o nosso grupo afirma não existir, ou aceitamos como verdade o que a maioria diz que é verdade, mesmo que nossos próprios olhos não convença que aquilo é falso. Tornamo-nos alheios a nós mesmos, despindo de nosso ser, desumanizamos à medida que humanizamos. Não somos nós, no momento que queremos ser nós mesmos. Instaura um divórcio consigo mesmo, ao ponto que não reconhecemos o “eu” frente ao “outro”. Somos o “eu”, querendo ser o “outro”. Ou, somos o “outro”, querendo o “eu”.
Tal como no estado hipnótico de dissociação, a voz e as palavras do hipnotizador tomam o lugar da realidade, assim o padrão social constitui a realidade para a maioria das pessoas. Por exemplo, o dono de uma fábrica precisa que o empregado, seja qual categoria for, subordine-se a ele (Patrão). Subordinado através de leis e ordens para que seja recompensado. É preciso ser visto com um bom trabalhador. Assim, sua vontade (O que ele deve fazer durante o trabalho) é dirigida pelo seu patrão. Rebelar-se as ordens, significar estar fora do trabalho. Não se pode contrapor as normatizações do patrão, caso contrário, estaria desempregado e chegando ao ponto de não ter aquilo que a sociedade considera como fundamental: dinheiro. Sem dinheiro, ele estaria isolado. Surge então o medo do ostracismo.
De fato, o que o ser humano considera verdadeiro, real, são os clichês aceitos pela nossa sociedade, e o que neles não se enquadra é excluído. Não há quase nada em que o homem não acredite, quando ameaçado pelo ostracismo. Restar indagar: - Haverá medos mais sutis que uma sociedade como a nossa possa produzir? Por enquanto, “há mais mistérios entre o céu e a terra, do que a nossa viagem constante e este meu texto pode descrever”.