segunda-feira, novembro 9

Solidão, um momento que não passará



A solidão continua amplamente discutida e vivenciada, contudo quase sempre está ligada a depressão e outras síndromes. Estar sozinho é sempre conciliado a um estado de tristeza, de sofrimento, vista como uma doença que precisa ser tratada e combatida. Por outro lado, a necessidade de viver cercado 24 horas por outras pessoas para viver termina limitando a própria autonomia.

Ainda não é fácil encontrar um conceito claro e uniforme sobre o que é a solidão e principalmente, desvincular da concepção de que seja uma doença social. Existem muitas versões para explicar esse controverso estado de espirito, que na verdade, não ‘surge’ em algumas circunstâncias.

Talvez a solidão pareça tão difícil de admitir porque em geral existe medo de reconhecer que não se trata de uma sensação, de que não é um momento, mas uma certeza para a vida inteira. A amizade, o namoro ou mesmo o casamento não são capazes de ocupar o espaço da sua própria presença. É possível se sentir e estar sozinho independente dos relacionamentos que estabelecemos, da mesma forma que ter muita gente próxima não significa manter relações saudáveis e deixar de se sentir sozinho.

Nascemos sozinhos e também morreremos assim, essa é a única certeza que podemos carregar. A natureza nos fez castrados de qualquer ideia permanente, o padrão é a mutação. A todo instante a água muda seu curso, as florestas seu tamanho, espécies desaparecem e tudo continua mudando, obrigando novas experiências de sobrevivência. O que torna a vida uma experiência solitária é a verdade de saber que as mudanças só podem ser vividas por quem passa por elas. Uma vivência individual do início ao fim, sem predisposições ideológicas a nenhuma forma de viver sua própria vida, não existem pessoas feitas por encomenda e ninguém é de ninguém.

Normalmente, quando rodeados da família, de amigos e conhecidos, a vida parece mais leve, é reconfortante o alívio de saber que temos um porto seguro. São nesses momentos que a a solidão pode se mostrar verdadeiramente. Primeiro porque a solidão só se prova com o seu contrário, segundo porque enquanto permanecemos acompanhados não pensamos na solidão ou muito menos que ela é triste, miserável e degradante, simplesmente ignoramos sua existência, como se não estivéssemos sós.

Só nos damos conta da solidão quando todas as pessoas que acostumamos ou desejamos ter ao nosso lado, simplesmente não estão conosco. O nosso grupo íntimo de convivência integra nossa visão de mundo e sua compreensão, em outras palavras, aprendemos a enxergar o mundo com o apoio dessas pessoas, sem elas, aquela leitura de mundo se perde. Se não aprende a criar seu próprio mundo, certamente ficará dependente da leitura de mundo de outras pessoas.

Quando em momentos muito particulares a vida exige guinadas que só podem ser feitas por nós mesmos. Essa responsabilidade de ser preciso tomar decisões sobre o desconhecido, sem ter o apoio de ninguém, obriga a encontrar coragem e ignorar a sensação de fragilidade por estar sozinho. Contudo esse momento não é tão raro quanto imaginamos, é mais corriqueiro do que se pensa. Mesmo assim, os relacionamentos de forma geral tendem a cair na dependência do outro, superestimando uma presença que não pode ocupar o espaço da sua própria vida.

Se só merecemos o que fazemos por merecer, só sai ganhando quem reconhece a solidão como alavanca para a evolução, ao invés de precisar de pessoas para confirmar suas crenças, ideias e opiniões. É preciso criar o próprio mundo e inventá-lo ao próprio sabor, fazer por merecer a própria liberdade e corresponder a responsabilidade inerente. A liberdade está escondida atrás da dor da solidão e responsabilidade, do sacrifício pessoal que cada um escolhe passar. O preço somos nós mesmos que escolhemos, mas é a vida quem exige.


A grande conclusão desse texto é mostrar que não existe o que esperar do outro, só podemos esperar algo de nós mesmos. Que a solidão diferente do que se pensa não é um momento isolado, mas um estado de espírito que não permite cobrar do outro as próprias responsabilidades e carências. As vitórias e derrotas são sempre uma constatação individual que não arrasta nenhum daqueles que escolheremos depositar nossa fé e esperança, porque no fim, estamos todos sozinhos.    

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