Todo
cuidado parece pouco para não chatear os corações ingênuos. Qualquer palavra
parece pesada se não for adequadamente encaixada num contexto de faz de conta. Discordar
significa falta de respeito numa sociedade em que só existe a opção de escolher
o que já esta definido.
O
significado das coisas mudou de lugar. A capacidade de questionar se tornou sinônimo
de ignorância das verdades absolutas. Apropriaram o discurso de que o homem tem
uma forma única de ser correto. A honestidade e o caráter só alcançam a quem
fala o que os outros querem ouvir.
As
pessoas corretas estão cada vez mais céticas de fazer críticas, porque a vida
se divide somente entre bem e mal para essas pessoas. O que não esta certo é
errado, o que não é branco, é preto. Não existe espaço para bom senso. Dúvidas
que levam a respostas cruéis não são politicamente corretas.
Centralizaram
a ideia pública sobre o que pode e o que não pode, o que vale a pena e o que é
proibido. Ser correto remete a uma pessoa sem alma, que não se expressa, que é
nula nos seus desejos. O preço para se tornar uma pessoa correta ameaça a
própria identidade.
As
pessoas que acreditam numa forma correta de fazer as coisas ignoram suas próprias
fantasias. Tornam-se escravos de uma forma de controle que não respeita a
individualidade humana, pois todos devem fazer o que é correto, independente de
suas condições ou de suas razões.
Parece
que ninguém precisa concordar ou discordar do que é certo. Existe um consenso
tradicional e irracional sobre o que e como algumas coisas devem ser feitas,
como se houvesse uma verdade universal sobre a natureza humana.
Se
há algo a ser dito sobre o ser humano e sua natureza é que somos felizes
somente quanto ignoramos esse mundo de regras e normas e nos entregamos aos
nossos desejos. A vida faz mais sentido quando se pode realizar todos os idiotas,
irracionais e simples instintos.
A
comodidade que a modernidade trouxe, ao invés de suscitar o espírito crítico e
revolucionário, limitou ainda mais a liberdade individual, deixou fragilizada a
autonomia humana. Confundiu ainda mais a debilitada consciência humana a
respeito do verdadeiro espírito de liberdade e da justiça a partir do que é
certo.
O
movimento de contra cultura que alimenta a experiência anti normas não é reconhecido
pela sociedade. Apesar de aperfeiçoar a autonomia pelo exercício da liberdade, a
sociedade brasileira ainda parece cega e resistente às inovações de não haver
mais tantas regras.