Existem coisas mal explicadas em
nossa sociedade. Como por exemplo, o que de fato é moderno? Pelo que se
comumente sabe, trata-se de ter o carro do ano, de roupas com tecidos
estrangeiros e um corpo magro, delirante e sensual. Refletindo melhor, isso é o
que se vende. É o estereotipo que rende milhões a pouquíssimas pessoas. A idéia
da modernidade se apresenta com a adoção do pensamento racional e do
antropocentrismo. Mas haverá caráter racional e de valorização do homem dentro
de nossa sociedade?
Os índios, não os do século XXI,
os realmente modernos e que existiram antes de Portugal achar que era dono do
Brasil. Esses sim refletiam a modernidade. Não trabalhavam excessivamente
porque afinal de contas eram racionais e sabiam que a morte chega para todos;
não adianta nada trabalhar arduamente e depois morrer. Não possuíam armas ou
bombas atômicas. Suas crianças não possuíam apenas os pais naturais. A aldeia
como um todo era pai e mãe ao mesmo tempo. Dentro da lógica tradicional isso é
uma questão habitual, usual, todos sabem. Mas se formos pensar na dialética que
há entre o que era nosso pais e no que se tornou, perceberemos que a idéia de
modernidade atual é algo contraditório e cheio de ilusão.
Andavam nus, mostravam seu corpo
a todo mundo e não havia quem os condenasse por ordem divina ou por atentado ao
pudor. O sexo se praticava na aldeia e dependendo da situação em qualquer
lugar. Não havia exagero. Sua vida era pacata e seus deuses não determinavam o
futuro de ninguém. A calma, a paciência e a sinceridade é que determinava o
ritmo das atividades. O tempo não era controlado. Nada vinha de fora. Tudo o
que precisavam era produzido por eles mesmos, até mesmo sua própria
inteligência e tecnologia. O alimento era compartilhado junto com as obrigações
e por isso ninguém passava fome.
Os homens não possuíam o espírito
de sexo dominante e as mulheres jamais foram tratadas como sexo frágil. A
divisão de tarefas era determinada pelo sexo, mas isso não impedia exceções.
Homens e mulheres respeitavam a natureza. Não havia o desejo de um sobre o
outro nem de acumulo. A arte era simbolizada pelos seus próprios corpos. Nem
sabiam o que eram mendigos, terno ou vinho.
As mulheres gordas não eram
vistas com desprezo. Os homens tinham sua natureza respeitada. O canibalismo
era medonho, no entanto todos o conheciam. Não omitiam essa característica ou
faziam de conta que era uma ideologia e que todos eram santos. Não havia
hipocrisia em excesso. A própria sociedade não ignorava seu lado podre. Se é
que assim pensavam a respeito de sua cultura e suas tradições. Como já afirmei,
jamais olhavam para si ou seu semelhante com preconceito.
Como em qualquer comunidade
humana, havia tribos anti-sociais e ignorantes. Em geral haviam compreendido
que não há uma luta a ser travada com a Natureza. Que se trata de um ser vivo
como outro qualquer e que se pode obter benefícios se as leis de convivência e
respeito forem mantidas. As músicas eram produto de sua própria cultura, não
careciam de um dicionário para entender o que ouviam.
A mídia era o canto de pássaros.
Não chegaram ao ponto de ter de transformar areia em vidro, petróleo em
plástico e pedras em cimento. Souberam por milênios manter o ambiente do mesmo
jeito que estava mesmo antes de nascerem. Respeitaram o seu ambiente e
aprenderam remédios e outras dezenas formas de viver bem sem ser preciso
escravizar alguém.
Não precisavam ler livros para
arrumar um emprego ou aprender a respeitar. Sentiam e se orientavam pela
intuição. Pelo bom senso. O conforto era estar vivo, com saúde e em paz.
Desconsideraram a importância de ter ao invés de ser. Pelo contrário, foram e
não tiveram. Calaram-lhe a boca e foram submetidos a crueldades. Sua cultura
foi destruída e hoje ainda são conhecidos como quase alienígenas.
Estes sim eram modernos. Hoje a
população exibe seus corpos e diz que se trata de ser moderno. As pessoas estão
voltando a querer um contato maior com a natureza. Estão sentindo falta de
sentir a si e ao mundo natural que os cerca. Perceberam que a complicação deste
século não garante felicidade a todos e sim a somente alguns poucos.
Na época em que índios viveram
não havia pobres e ricos, por isso jamais fez sentido haver preconceitos,
objetos de ostentação ou vitrines de exposição. Todos eram iguais em essência.
O Brasil era mais moderno há milhões de anos atrás. O que se chama de moderno é
cansativo, destrutivo e falso. Apenas existe para garantir o sucesso, a bonança
e a prosperidade de uns poucos na sociedade. No fundo sabemos que no pódio há
espaço somente para uma pessoa.