Os últimos acontecimentos
políticos no Brasil se tornaram um verdadeiro furacão abalando de diversas
formas a já complexa situação pela qual o país passa. O impedimento da
presidente Dilma Rousseff demonstrou um conjunto de falhas e distorções
bastante comuns para quem tenta entender alguma coisa do que se passa em solo
tupiniquim. Para o brasileiro nativo o fato de o cenário, extremamente fatiado
e conservador, da política nacional estar passando por maus momentos, não é
novidade nenhuma, na verdade, para os bens avisados, a crise atual já estava
anunciada há muitos anos antes do atual boom. A grande surpresa tem sido a
capacidade dos ilustres representantes legislativos em inovar suas tramas e
esconde-las da população.
Os episódios dessa catástrofe são
um ótimo exemplo para se entender quão diversa é a sociedade brasileira, e o quanto
os políticos refletem uma contradição em relação aos anseios éticos e morais
esperados dos congressistas. De forma geral, em termos de política, não há que
se falar em certo ou errado e sim o que deu razão aos acontecimentos, fato é
que, com a desinformação, fica difícil se chegar a alguma conclusão lógica e
deduzir que exista alguma racionalidade ou respeito à lei. Para cada absurdo cometido
existe um argumento mais esdruxulo, e do jeito que vai, a cada dia que passa,
as explicações vão se tornando cada vez mais intoleráveis e distantes da
realidade da maioria da população.
Outro aspecto relevante é de que as
pessoas pobres, que mais lidam com os resultados catastróficos dos erros políticos,
é quem menos tem condições de se interessar criticamente ou atuar por mudanças.
Geralmente lutando por saúde, educação e segurança, as pessoas em situação de
vulnerabilidade dificilmente conseguem se quer, captar os antagonismos da
política de esquerda ou o elitismo da direita. Deficiências sociais propositalmente
estruturadas para manter o atraso e a falta de conhecimento geral sobre a
situação do país, provocando discursos e posturas políticas que muitas vezes
ferem os próprios direitos.
Toda essa desconstrução apenas
soma fatores ao que já vem sendo consolidado como parte de uma pequena
política, ou da politicagem mesquinha assistida nos diversos espaços em que
sobressaem aqueles que trabalham barganhando privilégios próprios. O egoísmo
parece ser um mal constante na política, e no caso do Brasil foi
institucionalizado pelas elites conservadoras que preservam arduamente a naturalização
do desprezo pela mulher, pelo negro, pelo índio e pelas pessoas LGBTT. A
polícia talvez seja a principal instituição estatal representante do modo preconceituoso,
violento e truculento pelo qual a pequena política age em favor dos grandes e
escusos interesses hegemônicos no interior da própria sociedade.
Diferente do que costuma ecoar
por aí, não se pretende defender ou acusar de golpe o afastamento de Dilma. Não
é possível sustentar que exista um golpe em execução sem saber exatamente quem
está no comando ou contra quem efetivamente está sendo mirado. Muitos são os
discursos, as narrativas e as desculpas, mas muito pouco ou quase nada se consegue
explicar sobre o que vem acontecendo nos bastidores políticos. Como já foi
dito, a política parece ter cortado laços com a lógica, a racionalidade e o bom
senso, o que impera e determina a tomada de partido não é o esclarecimento, mas
o temor, o medo e a emoção.
A dicotomia radical entre as
posturas políticas só atrapalha ainda mais o entendimento das causas e consequências
obscurecendo e relativizando questionamentos, aplicando uma ideologia fascista
de padronização do entendimento e do sentimento nacional. O mundo mudou e o
Brasil já não é o mesmo, mas as formas de entende-lo e discuti-lo continuam as
mesmas da década de 1980, generalizando comportamentos e fazendo avançar
políticas conservadoras transvestidas de progressistas. Não é a vida que tem
que precisa caber na política, é a política que tem de caber na vida, de nada
adianta rivalidades e estranhamentos por causa de diferenças ou mesmo da
indecisão, enquanto a maioria da população se digladia o status quo permanece inalterado.
Não é na síntese ou na unidade indissolúvel
que encontraremos a solução, mas é na diversidade, no acolhimento das
pluralidades que construiremos um país democrático e para todos. Nem é a
política feita nos grandes cenários que deve determinar a forma como as pessoas
se relacionam e trocam opinião. É no conjunto das lutas diretas e dos males que
a todos acometem coletivamente, que teremos condições de encontrar caminhos
possíveis e realmente inovadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário