Eu muitas vezes preciso estar só
para visitar um lugar sem endereço. Meditar em alguma coisa que possa me fazer
pensar no nada. Ocupar a mente com alguma coisa que a deixe vazia. Ir longe depois
de apenas fechar os olhos. Pensar em algo que fale sobre o nada e me levar navegando
para bem longe.
Como um bruxo velho que sabe
falar a língua da natureza e dos deuses. Que se deita na terra e consegue
sintonizar-se com o Mundo. Que sabe sentir a dor das árvores, dos animais e ao
mesmo tempo reconhece o tempo de tudo acontecer sem interferir no curso natural
das coisas. Cheio de manias e simpatias discretas. Sempre pronto para engolir e
fazer afundar embarcações desavisadas.
Nas tempestades, mesmo que tudo o
que quero pareça tão perto, nenhum esforço parece suficiente para alcançar. Não
tenho do que me queixar. O que para outras pessoas é motivo de alarde e
sofrimento, a mim soa apenas como um simples acontecimento. Sinal da própria
falta de sintonia com as raízes que me fixam no chão alimentando da vida e
informando a pisada do inimigo a trotar.
Afastar-me só me leva cada vez
mais próximo do que quero, preciso e anseio. Entrega numa bandeja com sorrisos
destacados. Tudo porque há um mar dentro de mim que guarda destroços de grandes
embarcações naufragadas. Segredos tão antigos que já o deixaram de ser. Quinquilharias
e penduricalhos de outras épocas que fazem lembrar do meu poder de criar e
destruir.
Ventanias surgem e o furação
parece tocar a água para formar um grande e incontrolável tornado. Nesses momentos
sinto a necessidade de correr de tudo para que esse tormento de acalme e encontre
em si mesmo motivos para acalmar. Daí acontece o fenômeno de retornar à
calmaria sem pensar. Pensamentos, idéias e estratégias parecem apenas tubarões
saltando sobre o turbilhão de águas torrenciais que organiza ondas se rompendo.
Logo surgem sabres de luz que cortam
o céu ressaqueado e ainda nebuloso para tocar o fundo do mar. Garças surgem e
cantam voando sob o gigante oceano já colorido pelo colorido que só a luz é
capaz de revelar. E sem querer querendo mais uma tempestade se desfaz com o
simples propósito de fazer encontrar-me comigo mesmo.
Acho que sou esse mar.
Aparentemente calmo. Com águas transparentes, mas até certo ponto pouco
confiável. De um azul intenso e profundo, denso e pesado. Vez ou outro eletrizado
com os trovões que caem do céu. Uma criança que ignora sua própria natureza,
sem distinção do próprio poder. Sem consciência do próprio tamanho.
Sempre reinventando suas
profundezas. Mudando destroços de lugar. Cheio de medo de si mesmo. Como um Hércules
aprendendo a lidar com a própria força e que sem intenção quebra os cristais
finos que o rodeia.
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