sexta-feira, julho 8

Mundo fitness: saúde e alienação



 
A beleza contaminou tudo, desde o que vamos comer até o que vamos vestir. Todos queremos ter corpos belos, ter uma boa aparência, porque assim a vida fica mais fácil e começa a fazer mais sentido: refletir beleza. São muitos os apelos e diversos os casos, mas em especial e de forma crescente, o estilo de vida fitness ganha a adesão de pessoas de todas as gerações. O que antes era um conselho medico, de se exercitar, se tornou um verdadeiro gancho da vaidade humana.    

Frequentar uma academia em busca de um corpo torneado, “malhado”, definido por assim dizer, primeiro demonstra que todas as propagandas e avançadas estratégias de marketing tem dado certo. A banalização da vida e a celebrização do espetáculo, fazem crescer o hedonismo naturalizado e cativado, como postura de identidade no mundo. Existe um bom mercado econômico e financeiro explorando esse tipo de consumo, utilizando formas cada vez mais aprimoradas de aumentar seus ganhos. 

É preciso saber a diferença entre saúde e alienação. A busca excessiva por saúde pode se tornar uma alienação, mas a por ter uma rotina fitness em busca de um corpo perfeito já é alienação. Naturalmente que uma rotina equilibrada com alimentação saudável, exercícios físicos, lazer e relações de qualidade podem trazer um bem-estar e realização. Agora quando tudo se transforma numa doutrina incapaz de preparar também, para uma consciência ampliada da existência, se torna uma alienação ainda mais arraigada. 

Se as coisas começam a ser organizadas milimetricamente programadas para atender a expectativa pessoal de atingir determinada perfeição, perde-se o contato com o outro, com o valor real da vida que está no compartilhamento de experiências. A padronização estética presente nos ideais de perfeição reforçam uma categoria ideológica egocêntrica e excludente. Sem ser capaz de estabelecer pontes relacionais sinceras, não somos capazes de entender quem somos e quem são as outras pessoas. 

A busca pela perfeição por si só já é imperfeita, porque estabelece um centro de verdade que ainda não é capaz de perceber que não existe verdade. Existem compreensões compartilhadas de mundo que só encontram sua afirmação em si mesmas, com os seus semelhantes, talvez por isso mesmo são sejam capazes de se aproximar ou explicar aqueles que são diferentes. Toda essa complexidade está presente quando se discute esse cenário dos ritos de perfeição, incluindo pelo corpo belo.

Entender que cada existência carrega uma individualidade única que o torna especial, significa cortar laços com o que padroniza e impede da busca por si próprio. Se somos capazes de perceber o mundo alienado em que vivemos, também somos de mudar nosso comportamento e compreensão da vida. Quanto mais nos enchemos de nós mesmos, mais nos enchemos das relações que mantemos com os próximos, da perfeição imperfeita que é a vida, e do equilíbrio do que é realmente belo.

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